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Gente demais

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O meu vizinho que mora no terceiro andar tem uma explicação para os problemas que afligem o mundo atual:

- Tem gente demais, carros demais, tudo demais. Com tanta gente andando por aí o mundo se torna explosivo, impossível de controlar. Os confrontos entre pessoas se tornam inevitáveis, fato que explica o aumento da violência. Como não é possível atender às necessidades de todo mundo a desigualdade social só faz crescer. O fim disso só pode ser trágico. Aliás, você tem alguma outra explicação para essa enorme confusão e tragédias que ocorrem o tempo todo?

Não respondo. Olho para esse homem com quem ocasionalmente me encontro e, sinceramente, não encontro o que dizer. Ele continua:

- Veja só, hoje mesmo um homem de 41 anos de idade amarrou um cão no carro dele e arrastou o animal por cerca de 500 metros. Aconteceu em Guarulhos. O carro foi parado pela polícia e o só por ação dela o homem não foi linchado pelas pessoas que presenciaram essa desgraça. E olha que o homem declarou estar fazendo favor a um vizinho - o dono do cachorro que já não o queria mais. Como você explica uma coisa dessas?

- Bem, nesse caso…

- Meu amigo, não há outra explicação que não a existência de gente demais e dissolução dos códigos de conduta. A violência é tanta que matar um cachorro arrastando-o com o carro pode parecer a quem faz tal barbaridade algo normal e sensato.

Vou dizer que não sei se concordo com a explicação, mas deixo para lá e pergunto:

- Mas, qual seria a solução?

Ele responde de pronto:

- Ora, paralisar o crescimento populacional. Limitar o número de filhos dos casais como já o fizeram outros países. A China tornou obrigatório que um casal pudesse ter apenas uma criança, não?

Pondero ao meu vizinho que, entretanto, uma medida radical dessas teria efeito demorado, não resolveria a situação de pronto, ao que ele retruca que já seria um bom começo:

- De todo modo haveria uma limitação do número de filhos nas camadas mais carentes e desassistidas. Veja que os casais dessas camadas na maioria dos casos não têm como dar aos filhos o mínimo em termos de saúde e educação. Quanto à ação do Estado nem se fala, como podem atender a tanta gente?

Digo ao meu vizinho que não sei se concordo com a ideia de redução do número de filhos por casal.  Mas, acho que num ponto ele tem razão: há gente demais andando por aí do que resulta essa grande efervescência do nosso cotidiano. Não foi há pouco tempo que atingiu-se a marca de 7 bilhões de seres humanos vivendo na Terra?

Na verdade continuo sem saber se a espécie humana sempre foi assim só que os meios de comunicação eram mais atrasados e as notícias trágicas não chegavam tão rapidamente. Ouvi entrevista de um cientista que estuda o cérebro e ele disse que o ser humano é capaz de tudo, sendo impedido apenas pelas injunções sociais. Vou dizer isso ao meu vizinho, mas ele já não me ouve, afasta-se a passos apressados, sabe-se lá com que outra ideia na cabeça.

Escrito por Ayrton Marcondes

13 dezembro, 2011 às 7:08 am

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