São Luís do Paraitinga at Blog Ayrton Marcondes

São Luís do Paraitinga

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Acompanhei consternado o triste episódio que destruiu edifícios históricos de São Luis do Paraitinga. A grande enchente do rio Paraitinga desfez parte do conjunto arquitetônico que possui o maior número de casas térreas e sobrados tombados pelo CONDEPHAAT no Estado de São Paulo. Os prejuízos histórico e paisagistico são, portanto, de grande monta.

Não sei se o leitor teve oportunidade de visitar São Luís nos útimos tempos. Encontraria uma cidade pacata, exceto no período de carnaval, considerado um dos mais agitados de todo o Estado de São Paulo.

Estive em São Luís há poucos anos, na  época em que desenvolvi uma pesquisa sobre o médico sanitarista Oswaldo Cruz, nascido naquela cidade. Essa pesquisa resultou numa biografia do grande médico, ainda não publicada dadas as tendências editoriais brasileiras que, na maioria das vezes, dificultam publicações de obras do gênero citado.

Na ocasião pude sentir o pulso da cidade e a boa vizinhança de seus habitantes. Em relação à minha pesquisa, visitei a casa onde nasceu Oswaldo Cruz e a igreja matriz na qual o futuro médico foi batizado.

Para mim, a notícia mais triste sobre a tragédia de São Luís do Paraitinga foi o fato da enchente ter-nos privado da existência da centenária igreja matriz que ruiu, abalada pelas águas. Ficava a igreja na praça central da cidade, formando com as casas tombadas um quadrilátero de rara beleza.

Certamente outra igreja será construída no mesmo lugar. Entretanto, fica essa sensação de perda irreversível, de história descontinuada, de batismos, crismas, casamentos e mesmo cerimônias fúnebres definitivamente encerradas. É como se por ordem do rio fossem apagados os vestígios das pessoas que em tempos passados visitaram a igreja e ali celebraram cerimônias religiosas pessoais e familiares.

Como em tudo na vida vai-se embora o passado, ficam as lembranças. É bom, talvez, que seja assim. De minha parte prefiro me lembrar do dia em que, pela Rodovia Oswaldo Cruz, cheguei a São Luís. Antes de entrar, parei o carro e, do alto de um morro, observei a cidade. Lá estavam o rio de águas calmas e um tanto barrentas, seguindo o seu curso para desembocar no Paraíba do Sul. Lá também estava a praça com os prédios tombados e a igreja, soberana na paisagem montanhosa.

É desse modo que prefiro me lembrar de São Luís do Paraitinga, com a sua praça e o seu rio, sem enchente, sem destruição, como se nada tivesse acontecido.



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