2012 junho at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para junho, 2012

Ronaldinho Gaúcho

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O que se diz a toda hora é que ele fica mais feio quando abre a boca. Mas parece que não é bem o que a mulherada acha porque corre por aí que o Ronaldinho gosta mesmo é de noitadas, de festas. Por isso tantas piadas em relação a ele, a última a de que felizes mesmo com a contratação dele não estão os torcedores do Atlético de Minas, mas sim as casas noturnas de Belo Horizonte.

Agora que o Ronaldinho deu um pé na gente do Flamengo o clube carioca prepara-se para defender-se porque não quer pagar os 40 milhões de reais reclamados pelo jogador. Fala-se até que jogadores e funcionários do Flamengo estão dispostos a depor no processo para deixar claro o mau comportamento do Gaúcho. Isso faz a delícia dos cronistas esportivos que, a toda hora, repetem que o Gaúcho vinha direto das noitadas para treinar no Flamengo.

Rapaz, ao que parece essa história vai longe. Pois não é que está circulando na internet um vídeo que traz como título “a escapada” do Ronaldinho? No vídeo uma mulher se hospeda num hotel e pouco depois um sujeito - o Ronaldinho? - sai do elevador e vai para o quarto dela onde acaba passando a noite.

Do jeito que vai o Gaúcho corre o risco de tornar-se unanimidade nacional quanto ao desapego pelo futebol e a dedicação a essa outra vida que o acusam de levar. Ainda não é unanimidade é bom que isso fique bem claro. Torcedores do Atlético de Minas entrevistados se não mostraram confiança no futebol do rapaz demonstraram que, entretanto, vão torcer por ele, para que dê certo no clube. Entretanto, na mídia, o que se diz é que o presidente do Atlético teve um acesso de loucura ao contratar Ronaldinho, isso apenas quatro dias depois de ele sair do Flamengo.

Escrevo sobre isso porque não aguento mais ouvir falar sobre a vida do Ronaldinho Gaúcho sobre quem o que interessa mesmo é o futebol. A história dele está dando pano pra manga e não há veículo de comunicação que não estampe em suas publicações o próximo passo da novela Ronaldinho. Acusam-no de falta de compromisso, profissionalismo, responsabilidade etc. E ele, o que diz ele?

Bem, ele não perde o jeito de quem parece nem estar aí para essa confusão toda. Da noite para o dia aparece treinando em Minas Gerais e declara que sua carreira está longe de acabar. Fala com a sabedoria dos que conhecem tudo sobre jogo de bola, mestre que sempre foi da arte de jogar futebol.

Há quem diga que o Gaúcho está acabado. Outros dizem que atingiu aquela fase em que está muito rico e quer viver a vida, o futebol não interessa mais a ele. Olhe, não sei não. No fundo me parece que existe excesso de luz sobre um cara que dá notícia e chama tanta atenção. Quem sabe se o ignorassem um pouco, se deixassem pra lá as loucuras dele, quem sabe se ele não voltaria a ser o grande jogador que sempre foi. Hoje mesmo ouvi um cara falando que o Garrincha fazia das dele, mas quando entrava em campo produzia daí ninguém falar mal dele.  Segundo esse cara o que falta ao Ronaldinho é jogar bem o futebol.  Pois que ele tenha suas escapadas, que vá a festas toda noite, mas que jogue quando entrar em campo. Afinal, os homens sempre perdoam os erros dos eleitos quando esses retribuem com o que deles se espera.

É preciso lembrar que futebol é paixão. Ronaldinho Gaúcho é apenas um elo que nos liga a essa louca paixão, daí o cobrarmos tanto.

O perigo de Andrômeda

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Andrômeda, mulher de rara beleza é filha do rei Cefeu e de Cassiopeia que a considera mais bela que as Nereidas. Por essa razão as Nereidas se queixam ao deus Poseidon que, para punir Cassiopéia, envia um monstro ameaçador que, saindo do mar, devorará Andrômeda. Cefeu reluta em entregar a filha, mas seus súditos o forçam pelo medo de serem obrigados a entregar ao monstro seus próprios filhos.

Mas é ai que entra o herói Perseu, filho do deus Zeus com uma terrena. Jovem herói a quem se atribui a morte da Medusa das três Górgonas – aquele que olhasse para ela se transformaria em pedra – Perseu avista Andrômeda completamente nua, presa a um rochedo à beira do mar, esperando pelo monstro que a devoraria. Apaixonado por ela Perseu oferece-se como seu protetor, mas com a condição de desposá-la e levá-la para a Grécia. É assim que Perseu mata o monstro e casa-se com Andrômeda, conforme reza a mitologia grega.

O mito de Andrômeda tem servido como fonte de inspiração para várias obras. Recentemente os cinemas exibiram o filme “Fúria de Titãs” no qual se narram as aventuras de Perseu em sua luta para salvar Andrômeda. Perseu é um semideus - filho de Zeus – que mata a Medusa, dragões e finalmente o monstro que devoraria Andrômeda. Mas, o tema é também encontrado em obras dos dramaturgos da antiguidade como Eurípedes e Ovídio, na ópera italiana e em vários autores ao longo dos séculos. Pierre Corneille (1606-1684), francês, grande dramaturgo de tragédias, é autor da peça Andrômeda.

Mas, o que tem chamado atenção nos últimos dias é a previsão de cientistas da NASA que nos informam que a galáxia de Andrômeda se chocará com a Via Láctea ( galáxia onde se situa a Terra). Inicialmente previu-se que a colisão ocorreria em 2 bilhões de anos, mas os cálculos foram refeitos e o choque deverá ocorrer dentro de 4 bilhões de anos. Para realizar o cálculo foi utilizado o telescópio espacial Hubble com o qual foi possível saber a velocidade de deslocamento de Andrômeda. Atualmente Andrômeda situa-se a 2,5 milhões de anos-luz da Via Láctea.

Segundo os cientistas o choque entre as galáxias não destruirá a Via Láctea que mudará de forma, sendo os seus astros empurrados para novas posições.

Para quem estiver preocupado com o futuro da Terra é bom lembrar que o nosso planeta existe há cerca de 4,5 bilhões de anos. Será preciso, portanto, outro tanto de tempo para que a colisão venha a acontecer. Isso se acaso algum deus mitológico, ou um semideus como Perseu, não aparecer por aí na ocasião para salvar o nosso querido planeta. Em todo caso não custa lembrar que 4 bilhões de anos é o tempo previsto para o fim do nosso Sol de modo que esse parece ser, também, o tempo de existência da Terra.

Tudo muito distante e intrigante, não?

Feijão com arroz

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreve em “O Estado de São Paulo” sobre o que pode ser chamado de mesmice da política brasileira. De início o ex-presidente adverte que está a escrever duas semanas antes, mas aposta que os temas que cita serão atuais no dia da publicação de seu artigo. Quais são os temas? O ex-presidente cita a CPI do Cachoeira,  a corrupção, os candidatos às prefeituras e suas possíveis alianças, o baixo crescimento do PIB, a inadimplência crescente, a baixa dos juros, as soluções caso a caso para reduzir os estoques das empresas etc. Trata-se, nas palavras do ex-presidente, do “marasmo” enfrentado pelos leitores de jornais, sempre às voltas com os mesmo temas. Faltou só ao ex-presidente adivinhar o futuro e também citar essa coisa terrível que veio a público, ou seja, a denúncia do ministro Gilmar Mendes de que foi coagido pelo ex-presidente Lula. No mais acertou sobre o feijão com arroz do noticiário sobre o país.

De fato é em torno desses assuntos que giram as notícias sobre a política brasileira nos cadernos dos jornais. Verdade seja dita, nos últimos dias têm surgido comentários cada vez mais frequentes, sobre erros do ex-presidente Lula, entre os quais o de levar o seu partido, o PT, a promover a CPI do Cachoeira que agora ameaça voltar-se contra os seus próprios membros. Também se critica o ex-presidente por atropelar a futura eleição para a prefeitura de São Paulo, fazendo propaganda precoce e nacionalizando a disputa que, afinal, trava-se por uma prefeitura.

Mas, nada parece ter o poder de parar o ex-presidente Lula que, curado de seu câncer na garganta, parece ter voltado com toda força ao cenário político, inclusive declarando que será candidato à presidência da República - se a presidente Dilma não se candidatar - porque não vai deixar um tucano assumir a presidência do país. E por aí segue esse homem para quem a visibilidade pública e o poder parecem ter se tornado razão de viver.

Bem, o ex-presidente Lula terá as suas razões para agir como age e não cabe discordar dele até que os resultados práticos de suas andanças apareçam. Em todo caso falo sobre as recentes atividades do ex-presidente porque no domingo de manhã estava eu com o rádio do carro ligado num programa esportivo e ouvi de um comentarista um estranho conselho dirigido por ele a Lula. Dizendo-se conhecedor de vozes porque há 40 anos trabalha com os microfones nos ouvidos o comentarista insistiu para que o ex-presidente largasse mão dessas coisas em que se tem ocupado e se dedicasse a cuidar de sua saúde. O comentarista disse isso depois de elogiar bastante o ex-presidente, mas fiquei bastante intrigado com esse outro tipo de percepção, um quase diagnóstico realizado através da voz.

Espero que o ex-presidente tenha se curado completamente do câncer e possa continuar com sua animada entrega pessoal aos meandros da política brasileira.

Lembrança do Pedrão

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A idade que avança promove o retorno de pessoas e coisas esquecidas. Os médicos explicam que se trata de artérias cerebrais endurecidas que dificultam a irrigação sanguínea dos neurônios. Sintoma de esclerose - afirmam - é boa memória para fatos passados e ruim para acontecimentos recentes. Lembramo-nos perfeitamente de coisas acontecidas 20, 30 anos atrás, mas nem sempre temos lembrança de algo ocorrido nos últimos tempos. Isso sem falar nas situações em que fazemos um monte de coisas, tão mecanicamente, que um minuto depois não somos capazes de dizer onde realmente estávamos agorinha mesmo. É aquela coisa de fechar o carro e voltar a ele em seguida para ver se realmente o tínhamos fechado.

O lado bom - ou mau em alguns casos – é que nessa fase nos lembramos de situações que nos impactaram no passado e, juntamente com elas, das pessoas envolvidas. Pois não é que de repente me lembrei de um acidente de carro acontecido nos meus tempos de menino? Creio que na época eu não teria ainda 10 anos de idade. Morávamos numa cidadezinha de onde se saia viajando por estrada de terra ou de bonde elétrico cuja estação ficava a 4 km de distância.

Aconteceu que numa noite fomos, em carro de aluguel, levar meu pai à estação onde ele tomaria o bonde. Na volta estávamos eu, meu irmão e minha irmã, sentados no banco de trás quando o motorista errou o percurso e, ao invés de passar por uma pequena ponte, meteu-se ao lado dela, caindo o carro num riacho. Ocorre que o motorista assustou-se e, sabe-se lá por que, evadiu-se do local. Então ficamos, os três, ali no escuro, chorando, até que fomos resgatados pela gente de um caminhão que passou no lugar um bom tempo depois.

Lembro-me bem da revolta de minha mãe quando chegamos à casa e do esforço dela para conseguir uma condução que nos levasse ao hospital de cidade próxima. O meu irmão, mais velho que eu, cortou-se no acidente e ganhou uma cicatriz no rosto que levou consigo vida afora.

Eram outros tempos, entretanto, e as coisas ficaram por isso mesmo. O motorista, o Pedrão, era um bom sujeito, dono do carro e de algumas terras, bem sucedido, amigo do meu pai. Homem forte e de poucas palavras, o Pedrão era lhano no trato e dele sabia-se que tinha por hábito ter sempre, pendurado a um fio, sobre a cama onde dormia, um cacho de bananas. Caso o Pedrão acordasse durante a madrugada, estendia o braço, pegava e comia uma banana e voltava ao sono dos justos.

Esse Pedrão foi proprietário de caminhão e costumava fazer transporte de produtos agrícolas da região ao Ceasa, em São Paulo. Bom motorista aventurava-se na estrada barrenta da serra com grande carga, muitas vezes calçando os pneus com correntes para evitar deslizamentos. Entretanto, faltava a ele coragem para dirigir dentro da cidade de São Paulo. Por isso, fazia-se acompanhar de um ajudante que assumia a direção assim que alcançavam o fim do trecho da Via Dutra.

Não sei dizer ao certo há quantos anos o Pedrão morreu. Dele guardo boa recordação, excetuando-se aquele momento em que nos abandonou à própria sorte após o carro cair no riacho, ao lado da ponte.

Imagino que a atitude do Pedrão naquela noite desperte repulsa nos leitores. Não há como não concordar com isso. Entretanto, prefiro entender aquilo que muita gente poderia taxar como irresponsabilidade ou covardia como ato de pânico de um homem nervoso que talvez tenha fugido de si mesmo, alarmado pela grandiosidade do acidente que provocara. Aliás, leia-se grandiosidade nos termos da época porque, então, naquelas estradas não existia quase nenhum tráfego e a vala onde despencou o carro era de muito pouca profundidade.

Dinheiro falso

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Se há uma coisa que mexe com os nervos da gente é ser enganado com dinheiro falso. Fui vítima disso algumas vezes, todas em Buenos Aires. É sabido por lá que se precisa de muito cuidado com troco em notas, principalmente nos táxis. Você dá uma nota de 50 pesos e recebe pelo menos uma de 20 pesos falsa. Recebi, também, troco falso numa lanchonete que ousei pagar com nota de 100 pesos. Posso dizer que, depois de ser roubado algumas vezes, decidi aprender a conferir as notas que recebo quando estou naquela cidade. Desde então não recebi mais notas falsas ou rasgadas que também não são aceitas por lá.

De vez em quando surgem notícias de dinheiro falso no Brasil. Mas, se bem me lembro, o movimento de notas falsas foi maior em épocas passadas. Em todo caso, toda vez que ouço falar em notas e moedas falsificadas me recordo de uma história de meus tempos de menino. Trata-se de uma família de pessoas vindas do interior de Minas que se mudou para um sítio na cidadezinha em que morávamos. Gente muito boa, simples, talvez até mesmo com dificuldades de leitura. Pode-se dizer que seriam abastados, isso dentro do conceito limitadíssimo de riqueza do lugarejo e da época em tela.

A família era constituída por um casal de velhos - os avós - um casal mais novo - os pais - e três filhos. O mais velho dos filhos estudou durante anos num seminário, mas abandonou-o antes de tornar-se padre. Então veio morar com a família no sítio, sendo que, vez ou outra, viajava para São Paulo. Rapaz inteligente, bem apessoado, era ele o orgulho da família, o rebento ilustrado que dera certo. Pois justamente esse rapaz convenceu seus pais e avós a investir o que tinham de posses numa formidável máquina de fazer dinheiro. Foi assim que aquela gente simples passou às mãos do malandro o dinheiro que possuía, aliás, dinheiro esse que ele gastava em seus longos folguedos na capital. A coisa durou até que avós e pais descobriram-se endividados e acabaram por saber da infantilidade de acreditar-se na possibilidade de se adquirir uma máquina de fazer dinheiro.

Ficou-me a imagem do velho - o avô – ajoelhado em frente ao altar da igreja, rezando por dias a fio, pedindo a Deus clemência e reordenamento da vida, no que não foi atendido. Morreram os avós pouco depois, dizia-se na ocasião que por desgosto. O pai, obrigado a desfazer-se do sítio para saldar dívidas, mudou-se e arranjou emprego como varredor numa fábrica. Grande fatalidade familiar que ainda hoje me impressiona.

Ontem a polícia descobriu uma fábrica de moedas falsas em Campinas-SP. Estima-se que a fábrica tinha capacidade de produzir cerca de 10 mil moedas de 50 centavos por dia e funcionava há quatro anos. Consta que as moedas produzidas são de boa qualidade, sendo difícil diferenciá-las das verdadeiras.

Como se vê a produção de dinheiro falso seduz a bandidagem, daí ser preciso muito cuidado no manuseio de dinheiro em espécie.