comportamento at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para ‘comportamento’ tag

Violência contra crianças

escreva o seu comentário

É assustador o volume de notícias de violência contra crianças. Diariamente tomamos conhecimento sobre crianças vítimas de espancamentos. São menores indefesos que ficam à mercê do sadismo de adultos cujas razões profundas nem sempre são claras. Como sempre acontece nesses casos os espancadores negam o seu feito e atribuem as marcas da violência a acidentes absurdos. Ontem mesmo foi preso um homem que batia muito num menino de cerca de dois anos de idade. O menino apanhou tanto que teve ruptura de órgão interno, sendo submetido à cirurgia. A explicação? Ora, trata-se de criança muito ativa que vive se batendo em tudo. Como isso tencionava o espancador explicar os olhos roxos, as equimoses e o péssimo estado de saúde da vítima.

violancia-contra-crianaasAnálise mais profunda do que move pessoas a crime tão hediondo é assunto pertinente a psicólogos e psiquiatras. São eles os mais aptos a observar em cada caso os desvios mentais que levam alguém a agir violentamente contra menores, descarregando neles toda sorte de desequilíbrios e insatisfações. Entretanto, vale lembrar que não a muito tempo a cultura educacional em nosso país era mais voltada para a pancadaria que ao diálogo.

Às vezes falo sobre esse assunto com pessoas mais jovens e elas dizem que estou inventando. Você tem alma de ficcionista – afirmam. De nada adiantam os meus protestos, nem mesmo jurar que estou falando a verdade. O fato é que nas escolas brasileiras, creio que até o final dos anos 50 e início dos 60, a pancadaria comia solta: professores desciam a mão nos alunos. Usavam as pancadas como meio de impor respeito e garantir o aprendizado que se fazia na marra.

Tive nos bancos escolares alguns mestres de triste memória. Um deles, de quem me lembro bem, era superiormente dotado na arte de punir com as mãos e acessórios como réguas, varas etc. Mas era nos punhos cerrados que residia a maior eficácia do professor. Certo dia ele demonstrou isso muito bem com um espetacular direto na boca de um dos meus colegas do qual jorraram sangue e um dente. O menino que apanhou era um sujeito adorável, um negrinho muito meu amigo, pobre de dar dó. Mas, naquele tempo, os pais não reclamavam: parece que havia consenso de que umas pauladas seriam muito úteis para colocar os meninos “na linha”.

Houve um dia em que cheguei à casa algo machucado, após receber umas e outras do referido professor. Foi a única vez que meu pai, algo alheio à educação que ficava por conta de minha mãe, revoltou-se e decidiu retribuir as pancadas ao professor. O fato é que ele não encontrou o professor na escola e dia seguinte, sabe como é, é dia seguinte e os ânimos esfriam, daí que a coisa ficou por isso mesmo.

Há alguns anos encontrei-me por acaso com um companheiro daquela época. Não é que ele me perguntou se eu conhecia o paradeiro do tal professor? Ora, haviam se passado mais de 30 anos, como eu poderia ter idéia do caminho seguido por aquele desgraçado? Acontece que o meu ex-colega não conseguira se livrar das surras que recebera do antigo mestre e continuava disposto a bater nele. Na ocasião lembrei ao ex-colega que o professor seria um velho e que ele não bateria numa pessoa assim. Ao que o meu ex-colega respondeu:

- Ele batia em mim quando eu não podia me defender. Que mal há em eu bater nele que agora que ele também não pode se defender?

Quem estudou em escolas públicas nos interiores desse Brasil é bem capaz de contar historias semelhantes. Quero dizer que espancar crianças sempre foi um “divertimento” de adultos mal-intencionados, escudando-se sob o manto da educação. Muitos deles, quando não sob vigilância, chegam à barbárie. Aliás, é a barbárie que distingue relatos sobre pancadas em escolas dos atos hediondos praticados contra menores, tão comuns hoje em dia.

O barulho que incomoda

com um comentário

Você pode não se dar conta, mas a companhia do barulho é permanente no seu dia-a-dia. Brasileiro é um cara que gosta de fazer barulho, isso dá para notar, não é preciso nenhuma pesquisa. Faz-se barulho sem cerimônia, ao bel prazer, em horas próprias e impróprias, tem gente que parece carregar um tambor nas costas só pelo prazer de martelar.

o-barulho-que-incomodaTá bom, não se trata só de fazer barulho: o que há, na verdade, é um problema de educação, de falta de respeito pelos outros. E, também, de ausência de obediência a regras, à legislação. Exemplo: ao lado do prédio onde moro existem três casinhas cujos moradores são muito espaçosos e ruidosos. Hoje em dia as lojas vendem equipamentos de som, com boa potência, em 10, 20, 30 vezes. Basta comprar um daqueles, pagar uma merreca por mês e para passar à condição de proprietário de um “som” para festas. Depois é só chamar os amigos, deixar rolar uma cervejinha, assar uma carninha e espalhar-se até na calçada. Pronto, está feita a alegria de todo um domingo que se arrasta até altas horas da noite. Os vizinhos afrontados? Ora trata-se de gente muito chata, que não aceita a alegria dos outros, não gosta de berros, da gritaria infernal, de pagode; gente horrível esses vizinhos elitistas que só não ligam para a polícia por saberem que, se não pintar sangue na festa ao lado, nada será feito.

Há também aquele baixinho que tem um cachorro grande. Todo dia o baixinho sai às 7h30min para trabalhar e deixa o cachorro no cercado da frente da casa. Dirão que o cara é boa gente, cuida bem do cachorro, seria maldade deixar o bicho preso dentro de casa o dia inteiro. É verdade. Só que das 7h30min em diante o cachorro não para de latir. É um latido grave e profundo, forte porque, já disse, o cachorro é grande. De vez em quando ele pára, mas a gente sabe que não deve se animar porque, minutos depois, ele recomeça a ladainha dele. Às vezes penso que esse cachorro é um sujeito triste e desiludido da vida, talvez até não goste do baixinho que é seu dono. Por isso ele late, fria e metodicamente, como um marca-passo que não controla nada ou o ponteiro de relógio que não regula hora nenhuma. É assim que manifesta o desespero dele.

Não vou ficar aborrecendo com coisas do meu quarteirão. Poderia me estender sobre o caso do cidadão que é proprietário do bar da esquina e tem um rádio potente. Ele gosta de dividir o seu gosto musical com os vizinhos, tão boa praça é esse cidadão.  Em dia de jogo, então… Aí ele põe mesinhas na calçada, pendura bandeira do seu time do coração no poste defronte e liga o rádio a um sistema de som para que todos possam ouvir o jogo. O resto deixo para você imaginar.

Se você acha que estou irritado e por isso escrevendo essas coisas, errou. Até que já me acostumei com o vendedor de pamonhas, curau, sorvete, suco de milho etc. Ele passa toda manhã num carro pequeno em cujo teto instalou um alto-falante para avisar aos interessados de que está perto, é só correr para deliciar-se com as gostosuras que ele produz para deliciar-nos.

Você pode estar achando que estou exagerando. Não estou não, de jeito nenhum. Olhe que nem estou reclamando dos escapamentos abertos das motos, dos carinhas que colocam som grande no carro e andam com ele ligado e o porta-malas aberto, dos torcedores que extravasam alegria com as cornetas – é uma delícia ouvir cornetas perto da meia-noite quando os jogos noturnos terminam -, das britadeiras da prefeitura que começam a vibrar muito cedo, dos vizinhos de prédio que arrastam móveis ou cismam de furar a parede nas horas mais impróprias, dos bares noturnos da vizinhança, do cara que grita avisando sobre o gás, daquela música maravilhosa com a qual nos brindam enquanto fazemos compras nos supermercados… Esses três pontinhos aí servem para você completar a lista.

Tá bom, aceito o conselho, vou me mudar para uma floresta. Mas, será que os animais não gritam de madrugada?

Escrito por Ayrton Marcondes

11 maio, 2010 às 3:29 pm

com um comentário

As inquietações dos jovens

escreva o seu comentário

as-inquietaaaues-dos-jovensNão é possível resumir em meia dúzia de parágrafos as inquietações dos jovens de hoje. Adolescentes iniciam suas vidas num mundo fragmentado e de difícil compreensão. Valores que empolgaram as gerações passadas mostram-se insuficientes para a interpretação do cotidiano. Derivam daí comportamentos anômalos, muitos deles extremados e descambando para a criminalidade. Note-se que isso acontece até mesmo com jovens cujas famílias proporcionam a eles oportunidades educacionais privilegiadas.

Dentro do contexto anteriormente apontado é natural que as inquietações dos jovens atuais difiram das que assolaram seus pais quando adolescentes. Aliás, desse fato resultam muitas vezes incompreensões que podem afetar gravemente o relacionamento entre pais e filhos. Trata-se da conhecida incompatibilidade entre discursos baseados em diferentes visões de mundo.

Por essas razões fiquei muito surpreso com conversa que mantive com duas professoras do Ensino Médio. Falavam elas sobre as inquietações dos jovens e fizeram o milagre de agrupá-las em apenas dois tipos. Nas palavras delas:

- Existem inquietações relacionadas à Justiça e outras ligadas aos sentimentos.

Explicou-me uma das professoras que a noção de Justiça prende-se a coisas estanques como certo e errado. Assim, não importa muito a dimensão de um crime porque, uma vez cometido, é errado. Diante disso as professoras perguntaram aos jovens se um assalto a banco tem a mesma dimensão de roubo de dinheiro para comprar comida. A pergunta despertou várias respostas e opiniões, na verdade embaralhando um pouco a noção de certo e errado porque acrescentou a ela o sentimentalismo que cerca a fome e a pobreza.

No fundo, disseram-me, para os jovens as coisas ligam-se principalmente ao amor, tema de grande complexidade que se agrava pela inexperiência deles. Sobre isso travam-se discussões acaloradas, durante as quais cada um agarra a oportunidade de dizer o que pensa.

Assim, as professoras destacaram o grande interesse dos jovens em manifestar as suas opiniões para o que poucas vezes têm eles oportunidade. O fato é que os adolescentes nem sempre são ouvidos e acabam sendo enquadrados num discurso do tipo “essa fase vai passar, com o amadurecimento tudo se resolve”.

Todos nós passamos pela adolescência e sabemos que as coisas não são tão simples. Período complexo e de grandes descobertas a adolescência é o momento em que o jovem abre as janelas que permitem a ele observar o mundo e inserir-se nele. Se me perguntarem sobre algo que me marcou nesse período direi que foi uma fase despretensiosa, vinda de alguém que a pronunciou talvez por não ter outra coisa a dizer. Estava eu às voltas com as tais definições que muito cedo somos obrigados a tomar, bastante confuso por não saber que caminho escolher. Nessa ocasião um parente sentiu-se na obrigação de me dizer algo. Então disse:

- O problema é que você está querendo colocar a carroça na frente dos bois.

Depois disso, vida afora procurei organizar as minhas atitudes sempre com o cuidado de deixar com que os bois puxassem a carroça. Vez por outra, em situações difíceis, as rodas da carroça ficaram presas, o eixo quase quebrou, mas os bois fizeram a sua parte e a viagem da vida prosseguiu.

Foi assim que chegamos, eu, carroça e bois ao dia de hoje, confiantes de que venceremos os quilômetros que ainda tivermos à frente, sempre seguindo o mesmo e lógico princípio.

Escrito por Ayrton Marcondes

16 abril, 2010 às 12:11 pm

escreva o seu comentário