2012 agosto at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para agosto, 2012

Nas asas da traição

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Sempre que ouço notícias sobre casos de traição entre casais eu me lembro do conto de Nelson Rodrigues sobre um marido traído. A mulher traia o marido e um amigo avisou-o várias vezes sobre o caso dela com outro homem. Como o traído não desse sinais de acreditar o amigo deu a ele o endereço do hotel onde o casal se encontrava e o horário do encontro. Pois no dia e hora certas postou-se o marido perto do hotel e pode ver a mulher e o amante. Ficaram no hotel durante algum tempo e o marido traído presenciou inclusive a saída do casal. No dia seguinte o amigo que avisara o marido perguntou a ele sobre o que tinha constatado na porta do hotel. E o traído respondeu: não era a minha mulher.

Há homens que têm a fama de serem “cornos mansos”, ou seja, aceitam a traição das mulheres. Não são incomuns casos em que o marido perdoa a mulher que o traiu e a traição se repete mais tarde. Por outro lado existe maior liberdade no mundo masculino em relação à traição de homens. O machismo inclui a visão de ser mais ou menos normal que homens traiam suas mulheres. O contrário é que não pode, assim reza a opinião de boa parte dos homens.

Você certamente terá conhecido e ouvido histórias sobre traições entre casais. A contratação de detetives para seguir homens e mulheres casados tornou-se mais comum do que se pensa. Recentemente, num programa de televisão foram entrevistados detetives cuja função é seguir pessoas suspeitas de traição. Um deles afirmou que quando uma pessoa o procura é porque já sabe sobre a traição, daí que se torna questão de tempo confirmá-la.

Em todo caso as histórias sobre traição conjugal são sempre muito aborrecidas, envolvem sofrimento e desespero. O diabo é quando a traição se torna pública e envolve pessoas muito conhecidas. Nesses casos fica difícil a quem é traído livrar-se da fama de corno. Nesse sentido a bola da vez é Robert Pattinson, ator de filmes como “Crepúsculo”. A parceira de Pattinson nos filmes sobre vampirismo é a triz Kristen Stewart que, na vida real, vive com ele. Acontece que Pattinson descobriu que Kristen o traía com o diretor do último filme em que atuou. Esse caso de traição está na berlinda no momento. Os meios de comunicação sempre voltam ao assunto, ora para dizer que Pattinson saiu da mansão em que vivia com a namorada, ora para dizer que kristen pediu perdão que foi recusado por Pattinson etc. Quanto à mulher do diretor parece que ela não se deu por achada no caso apressando-se os comentaristas em atribuir a diferença de reações entre ela e Pattinson ao fato de que “o maior medo do homem é ser humilhado publicamente enquanto a mulher, infelizmente está acostumada a ser traída”.

O caso tem dado o que falar inclusive com citações jocosas do tipo “vampiro corno”, “chifrúsculo” etc. Fofoca vai, fofoca vem, parece que a traição entre os vampiros ainda vai dar muito pano pra manga e fazer a delícia dos que adoram falar sobre a vida dos outros.

Estrago irreparável

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Você sabe quem é Cornellius Horan? Certamente não pelo nome, mas sabe sim quem é o cara. Trata-se daquele padre irlandês que agarrou o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro quando ele liderava a maratona de 2004. Por conta desse ato irresponsável Vanderlei acabou perdendo o ouro na competição, ficando com a medalha de bronze.

Quem tem assistido à atual Olimpíada, realizada em Londres, sabe o que significa para um atleta a vitória ou a derrota numa competição para a qual se preparou durante muito tempo. Ontem mesmo via-se o brasileiro Cesar Cielo chorando ao receber a medalha de bronze pela sua participação na prova dos 50 m livre na natação. Favorito, Cielo acabou ficando em terceiro lugar fato que o levou às lágrimas. O bronze parecia não significar nada para quem havia se preparado para o bicampeonato na prova.

Mas, voltemos ao tal Cornellius Horan que atualmente defende algumas libras dançando nas ruas de Londres. Pois ele se declara arrependido de seu ato e diz que daria um jeito de vir ao Brasil caso Vanderlei Cordeiro aceitasse as suas desculpas. Classificando-se como um homem bom Cornellius pergunta sobre a opinião dos brasileiros a respeito dele.

Para falar a verdade eu tinha me esquecido do feito de Cornellius. Entretanto, hoje ao ler a reportagem tornei a sentir a mesma aversão que experimentei por ele em 2004. O que talvez não passe pela cabeça de Cornellius é o fato de que, nessa vida, alguns erros não têm conserto, são irreparáveis. O que ele fez a Vanderlei Cordeiro, roubando de um atleta momento único em sua carreira, simplesmente é inclassificável.  Esse estrago irreparável me faz desejar que o senhor Cornellius Horan continue com a sua vida em Londres e não venha ao Brasil. Se acaso Vanderlei Cordeiro conseguiu perdoá-lo eis ai algo de nível apostólico, beatificado, santificado, coisa de quem merece ser recebido no paraíso com banda de música e coral de anjos saudando-o.

Ainda e sempre Marylin

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Há pouco tempo assisti ao filme “Sete dias com Marylin” no qual a atriz Michelle Willians faz o papel da grande diva do cinema. A trama gira em torno de uma estada de Marylin Monroe em Londres ao tempo em que era mulher do dramaturgo Arthur Miller. Marylin vive um momento em que busca fugir dos holofotes no que é ajudada pelo jovem Colin Clark (Eddie Redmayne), vindo de Oxford, que trabalha como assistente durante a produção do filme “O Príncipe Encantado”.

Em “Sete dias…” o espectador acompanha as aventuras de Marylin fora das telas na qual a grande atriz é mostrada como Norma Jean dada a necessidade que mostra de experimentar a vida das pessoas comuns. Colin Clarck obviamente apaixona-se por ela, mas a relação entre os dois não progride além de um curto período de amizade.

Michelle Willians foi premiada com o Globo de Ouro na categoria melhor atriz de comédia ou musical por sua atuação em “Sete Dias…”. O filme é bem produzido, traz atores como Kenneth Branagh no papel de Sir Lawrence Olivier, e mostra bem a fascinação que Marylin provocava nos homens. Sua visita ao castelo de Windsor - quando inesperadamente se vê aplaudida  - destaca bem as diferenças entre a mulher Norma Jean e a atriz Marylin que, na ocasião, pergunta ao jovem que a acompanha: devo ser ela?

Entretanto, Willians não é Marylin, nem poderia dado que Marylin de fato é única. Daí que nada é melhor que rever a própria Marylin em seus filmes. Nesses dias a Rede Telecine está exibindo o filme “Os desajustados”, dirigido por John Huston e com roteiro de Arthur Miller, no qual Marylin contracena com grandes nomes do cinema como Clark Gable e Montgomery Cliff. A trama se passa na cidade de Reno e Marylin é Roslyn Taber, mulher que se divorcia e vive relação amorosa com Gay Langland (Clark Gable).  Para os dias de hoje a trama mostra-se um tanto arrastada e cena após cena nada parece sugerir que nas vidas das personagens algo de realmente interessante possa vir a acontecer. Entretanto os diálogos escritos por Arthur Miller e a direção de John Huston fazem a diferença.

Os “Desajustados” é um filme de 1961. Clark Gable morreu dias após o término das filmagens e Marylin veio a falecer em 1962, aos 36 anos de idade. A beleza e a presença magnética de Marylin na tela são os pontos altos do filme demonstrando, fartamente, porque até hoje ela permanece como um dos ícones máximos de nossa cultura, eternamente lembrada e citada.

Enfim o julgamento do mensalão

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Parece inacreditável, mas sete anos depois o mensalão finalmente vai ser julgado no STF. Ontem se mostravam os preparativos para o início das sessões nas quais os réus enfrentarão as acusações que contra eles pesam e terão oportunidade para defesa.

Discute-se se o julgamento será apenas baseado nas leis, se partidarismo políticos influenciarão as decisões, se a cobrança da opinião pública sortirá efeitos no encaminhamento dos trabalhos. Não há como negar que sob o ponto de vista público esperam-se condenações. A verdade é que fomos bombardeados por terríveis acusações de grandes movimentações de dinheiro para a compra de votos de parlamentares na esfera federal. As acusações que se iniciaram com o dedo em riste de Roberto Jefferson, as negações de José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, o surgimento de Marcos Valério como o homem do dinheiro, a negação do então presidente Lula de que o mensalão tenha existido e o furor da oposição no sentido de punir os responsáveis, tudo isso nos levou a esperar pelo esclarecimento final dos caso e a punição dos envolvidos.

A verdade é que a demora para que o julgamento se realizasse reforçou junto à opinião pública a certeza de que vivemos no país da impunidade no qual desmandos e crimes de qualquer natureza passam em branco, tanto que nos habituamos a eles. Pois é justamente para que a confiança popular no judiciário do país se restabeleça que o julgamento do mensalão virá a contribuir. É preciso que se coloque ponto final nessa triste história de tramoias realizadas às escuras com prejuízo para o país e os cidadãos que trabalham honestamente.  Que sejam punidos os que fizeram jus à punição e absolvidos os que não são culpados.

Segundo Roberto Gurgel, procurador-geral da República, o mensalão foi o maior caso de corrupção no país. De que o mensalão existiu não restam duvidas embora políticos o neguem em acordo com seus interesses pessoais e dos partidos em que militam. O que se espera a partir de hoje é que o Supremo realmente seja Supremo. Condições para isso não falta a esse órgão formado por magistrados de altíssimo nível e com totais condições de  discernir entre o certo e o errado, o legal e o ilegal, entre o  que é crime e o que não é.

O avesso da arte

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Aqueles quadros emoldurados colocados pouco acima das mesas do restaurante incomodavam. Junto da mesa em que eu estava havia um deles, de tamanho médio, no qual figurava uma paisagem. O autor pintara na tela algo que seria um campo de capim gordura no meio do qual se destacavam algumas árvores.   Árvores mal ajambradas - é bom que se diga. Quanto ao capim as primeiras folhas - mais próximas dos olhos do observador - até que eram mais ou menos bem desenhadas. Delas podia-se dizer que de fato sugeriam que fossem de capim. As do fundo misturavam-se, não passando de um conjunto desarmonioso de rabiscos que se fundiam num traço verde grosso e desproporcional a todo o resto. O quadro não trazia o nome de quem o cometeu, mas abaixo dele se via um cartãozinho, preso à parede com uma tachinha, no qual se lia: PAISAGEM. Preço: 250,00.

Estava, pois, à venda aquele avesso da arte que alguém certamente pintara para se divertir em momento de ócio. Há quem se dedique a atividades como pintura apenas para aliviar as próprias tensões e colocar-se acima do comum dos mortais. Nesta variante humana repousa a ilusão de “ser artista”, ainda que não reconhecido. Um vizinho de casa em que morei jamais teve qualquer bossa para vir a ser músico, mas se acreditava um deles e dos bons. Toda noite sentava-se ao teclado e barbarizava as notas com dissonâncias assustadoras. Eu o ouvia, noite após noite, até eu me mudei. No dia em que ele viu o caminhão de mudanças na minha porta apareceu para se despedir e ousou perguntar-me se eu costumava ouvi-lo tocando. Achei melhor não responder e fui embora. Nunca mais voltei àquela rua, risquei-a do mapa tal a aversão que o som daquele maldito teclado me causou.

Mas, o “artista” que pintou os quadros exibidos no restaurante na verdade é meu velho conhecido. Homem simples começou como pintor de paredes atividade na qual não se destacou como profissional de boa qualidade. Mais tarde trabalhou em outros ramos até que passou a pintar quadros nas horas vagas. Certa vez, conversando com ele, perguntei se alguma vez fizera algum curso e ele me disse que não. Nomes como Gauguin e Picasso eram para ele totalmente desconhecidos.

Ouso dizer que os quadros do meu conhecido não podem ser considerados de qualidade porque realmente falta a eles um pouco de tudo que a pintura exige. Mas, se a minha opinião estiver correta como se explica que ele continue produzindo e venda suas telas mal acabadas? Na verdade entre ele e os compradores existe um intermediário capaz de garantir aos incautos que o que está nas telas é considerado primitivismo da melhor cepa. Conversa vai, conversa vem, e o bom vendedor passa para frente a produção do antigo pintor de paredes.

Você pode duvidar do que estou dizendo ou achar que tenho motivos escusos para não gostar dos quadros aos quais me refiro. Mas, não se engane: eles são ruins mesmo. Coisa que, aliás, pouco importa porque o pintor está feliz com sua produção, há demanda do que pinta e compradores ocasionais ficam bem satisfeitos em pendurar as telas dele nas paredes das suas casas.

É assim que funciona.