Violência e Copa do Mundo at Blog Ayrton Marcondes

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Violência desmedida

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A morte de um cinegrafista da TV Bandeirantes comove e indigna a opinião. Não se trata de exigir um basta à violência coisa hoje em dia já nos figura como talvez impossível. Mais que isso o que se pergunta é até quando teremos que conviver e suportar a barbárie que já excedeu a todos os limites de tolerância.

A sensação de insegurança, a preocupação permanente com os familiares, a incerteza e a ideia de que de um instante para outro poderemos nos ver à mercê de algum bandido armado para quem a vida nada vale; tudo isso gera um sentimento de impotência, de fracasso, de ruina de uma civilização que vai perdendo o controle sobre si mesma. Ninguém sabe dizer qual será o fim dessa situação que se tornou cotidiana dada a sua incrível frequência.

Tenho medo de andar nas ruas; tenho medo quando fico dentro do carro em trânsito parado; tenho medo dos congestionamentos em estradas quando em viagem; tenho medo de arrastões em praias, restaurantes, shoppings centers etc; tenho medo de que entrem na minha casa. Tantas são as pessoas atacadas inesperadamente por criminosos que, ao sair de casa, corre-se sempre o risco de não voltar.

Uma personagem de Chico Anysio era um político que sempre começava os seus discursos dizendo: palavras são palavras… Pois é: palavras são palavras. E palavras de apoio moral são as que mais se ouvem hoje em dia quando uma família é penalizada pela abrupta perda de um de seus membros assassinado.

O cinegrafista filmava uma manifestação nas ruas do Rio de Janeiro quando foi atingido por uma bomba lançada por um rapaz agora procurado pela polícia. As cenas do momento em que foi atingido estão sendo exibidas continuamente na TV. Atingido ele cai e já não se levanta. Depois se soube que a explosão afetara o cérebro e ao estado de coma seguiu-se a morte. Estarrecida a classe dos jornalistas se levanta. A noticia da morte é reproduzida em importantes veículos de informação do exterior os quais, mais uma vez, se mostram preocupados com a Copa do Mundo a se realizar em breve no país. A presidente da República ordena que a Polícia Federal ajude na investigação do crime. Políticos não perdem a oportunidade de dizer palavras, as mesmas de sempre sobre o que é preciso fazer para coibir a criminalidade.

No mais? Ora, amanhã será outro dia. Em pouco o assassinato do cinegrafista passará ao segundo plano, substituído por novas atrocidades que deixarão atônita a opinião. Assim se passam as coisas, não?

O que existe paras ser dito, a única coisa que realmente faz sentido nessa hora é pedir que sejam deixadas de lado as palavras, as discussões estéreis, as tentativas de entendimento das mentes criminosas ou as razões que determinaram a situação atual.  Tudo isso é importante, não se nega, mas talvez não contribua de imediato para interromper a escalada da criminalidade. O que se precisa é deixar de lado os discursos exaltados, a retórica empolada, e estabelecer um pacto de ações que, entre outras medidas, envolva leis mais duras e punições a atos de vândalos e criminosos.

A morte do cinegrafista enquanto trabalhava é desses acontecimentos que doem na alma da gente.