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Retorno à civilização

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Tem aquela história muito repetida do sujeito que tenta convencer um índio que está pescando de que é bom trabalhar, ganhar dinheiro, progredir, e mais tarde aposentar-se para, enfim, gozar de coisas como uma boa pescaria.

Há quem sonhe com uma vida tranquila, longe dos problemas do dia-a-dia que normalmente enfrentamos. Conheci um sujeito, já morto, que certa vez decidiu ir aos EUA e se complicou para obter o visto. Acontece que entre os documentos exigidos pela embaixada dos EUA figurava o da declaração de Imposto de Renda que o sujeito não tinha. Quando ele me disse que nunca declarara o IR perguntei sobre a razão dessa decisão, ao que ele respondeu:

- Eu nunca quis isso para mim.

Desde essa ocasião fiquei com a sensação de que, afinal, para fazer ou não parte do mundo que me cerca basta querer ou não querer. O tal sujeito tinha casa, carro e trabalhava sem nunca ter sido registrado. Recebia por fora, não declarava nada e sabe-se lá como conseguia comprar e vender propriedades. Mas, dizem que no Brasil tudo é possível, coisa que também não reúno qualificações para discordar.

Agora, surgem esses dois vietnamitas – pai e filho – que reaparecem após passarem 42 anos – isso mesmo, 42 anos - vivendo numa floresta. Os dois fugiram na época da Guerra do Vietnam após a casa em que viviam ter sido bombardeada, tendo ocorrido mortes de alguns dos parentes. Outro filho do homem que vivia na floresta tentou por várias vezes convencer ao pai e ao irmão para que retornassem á civilização. Eles sempre se negaram até que agora, estando o pai com mais de 80 nos de idade e muito fraco, finalmente se rendeu.

Não se trata de caso único. Se bem me recordo anos atrás foi encontrado um japonês que se refugiara numa floresta ao tempo da Segunda Guerra Mundial. Quando reapareceu o japonês ainda supunha que a guerra não havia terminado por esse fato podendo-se fazer ideia do nível de isolamento em que vivera por décadas.

Estar ou não no mundo talvez possam realmente tornar-se opções para pessoas cujas índoles escapam ao nosso modo gregário de viver. Isolar-se ao extremo, abdicando do contato com seus semelhantes e viver décadas em condições primitivas é incomum. Seria interessante investigar o ponto de vista de pessoas que escolheram esse modo de vida e a percepção que passam a ter agora do mundo do qual se subtraíram.

Vem-me à memória o grande livro “Walden” do escritor norte-americano Henry Thoreau . Naturalista, historiador, filósofo e crítico da ideia de desenvolvimento, aos 27 anos o escritor foi viver isolado perto do lago Walden onde escreveu sobre a vida simples, cercado pela natureza. Entre outros trabalhos Thoreau publicou o ensaio “Desobediência Civil” que ele entendia como forma individual de se opor a um estado injusto.

Thoreau  foi um gênio que influenciou gerações de escritores e ainda hoje é lido em todo o mundo. Não se satisfazia com o modo como as pessoas viviam e passou muito tempo meditando sozinho em florestas.