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Vida de palhaço

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Já vou avisando que não se trata de chorar as pitangas, reclamar da vida, dizer que fazemos o papel de palhaços diante das coisas que temos que engolir no dia-a-dia.

Nada disso. Aqui se fala da alegria, do mundo do circo, das hipnóticas atuações de palhaços. Começo me lembrando de um deles, se não me engano um húngaro, que quase me fez morrer de rir durante a apresentação de um grande circo em São Paulo. Era ele um grande artista, desses capazes de estabelecer conexão imediata com o público. Tal foi a desempenho dele que nunca o esqueci. Ainda hoje me pego rindo quando me lembro desse palhaço e sua fenomenal atuação.

Entretanto, nem todo mundo tem a glória de se apresentar em grandes circos. Nem todo mundo é Burt Lancaster, Tony Curtis e Gina Lollobrigida, trabalhando no filme “Trapézio”. Disso sou testemunha dado que no passado vivi em lugarejos visitados por trupes de pequenos circos.

Sempre atraído pela magia do mundo do circo, nunca perdia os espetáculos das pequenas trupes. Eles chegavam num caminhão carregado com a lona, cadeiras e outros apetrechos. Depois de curto período de montagem pregavam nos postes e paredes seus cartazes, convidando o público para comparecer aos espetáculos. A propaganda também era feita através de um passeio com o caminhão pelas ruas ao som de um alto-falante pelo qual se apregoavam as maravilhas do espetáculo.

Vale lembrar de que no final das contas o espetáculo era de uma pobreza total. O dono do circo era sempre o apresentador, a mulher dele aparecia de maiô fazendo acrobacias, um sujeito contava piadas e dois palhaços entretinham o público entre um número e outro. Num ou noutro circo aparecia um mágico que, em geral, se limitava a algumas diabruras com lenços e baralhos.

Devo a um dos palhaços desses circos itinerantes um dos maiores fiascos de minha vida. Certa noite crianças foram convidadas ao picadeiro para participar de uma competição: estourar bexigas. Fui escolhido pelo palhaço e recebi uma bexiga de borracha que deveria assoprar até que ela estourasse. Éramos cinco diante do pequeno público e o vencedor seria aquele que primeiro estourasse a sua bexiga. Bem, fui o último colocado e, se bem me lembro, nem consegui estourar a bexiga que me competia. Pelo que muito se aproveitou o palhaço diante da minha dificuldade, convidando o público a soprar o ar como estímulo para o sucesso da minha tarefa.

Assim que sai do picadeiro fui-me sentar no fundo, junto da porta. Pouco tempo depois e já sem despertar a atenção dos presentes, saí de fininho.

Quando meus filhos eram pequenos eu detestava soprar as bexigas a serem utilizadas nas festinhas de aniversário. Confesso que até hoje não me dou bem com bexigas de borracha. Dirão, talvez, que se trata de trauma de infância. Prefiro dizer que desenvolvi certo trauma de palhaços a quem gosto de ver, mas de longe.