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Coisas de casal

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A história é bem simples. O marido enganava a mulher com a mocinha bonita, empregada doméstica deles. As traições aconteciam no período da manhã: o marido tinha o hábito de agradar a mulher, preparando o café da manhã e servindo a ela em bandeja, na cama. Todo dia o mesmo ritual: ele a acordava com um beijo e servia a ela o café matinal. Ela adorava.

Enquanto a mulher tomava o café o marido descia depressa pela escada - moravam num sobrado - e ia até o quarto dos fundos, levando com ele a empregada. A coisa durou até que, certo dia, ele se esqueceu de colocar na bandeja o açúcar. Sem açúcar a mulher decidiu ir até a cozinha para buscar o açucareiro.

Estava ela no meio da escada quando ouviu ruídos estranhos no quartinho dos fundos. Então foi até lá e pegou o marido em plena função, quer dizer unido carnalmente à mocinha bonita, a empregada doméstica deles.

Seguiu-se o esperado: caracterizada a traição entraram os advogados, fez-se a separação, tendo o marido concordado em deixar a casa e outros pertences com a mulher.

A história simples terminaria aí não fosse o fato da mulher justamente ter contratado para as funções domésticas da casa uma mocinha bonita, escolhida a dedo. Como ela esperava, o marido logo se encantou com a mocinha e terminou por ter um caso com ela. A partir daí só restou à mulher esperar pelo momento do fragrante

Hoje o ex-marido mora sozinho e acredita que por burrice perdeu tudo. A mulher vive bem. Ela trouxe para casa o rapaz com quem já se encontrava a algum tempo e avisa que pretende se casar com ele.

Essa pequena história me foi contada por uma amiga com a graça que eu não soube reproduzir.

Escrito por Ayrton Marcondes

29 março, 2013 às 12:18 pm

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Lá no alto do morro

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Amigo, não sei dizer por que a memória é assim, porque de repente algo soterrado lá no meio das sinapses – existem tantas - aflora, como um naufrago que tivesse adormecido sob as águas e despertasse com lembranças de coisas que simplesmente já não importam.

Então me lembro, sem mais, sem menos, sem aviso prévio, de mim menino, dando pernas naquele caminho de morro, estrada de terra, primeiro passando medroso ao lado do portão do cemitério, depois seguindo adiante como quem vai para as nuvens, talvez para o céu. Até alcançar a última curva, suando sob o sol, já vendo o casarão que um homem de nome estranho construiu no passado, a casa onde mora um casal e o filho, ela aparentada de minha família.

Pois ela é uma loira atraente, casada com certo Zé cuja face surge agora aqui bem à minha frente, ele tão direito, tão tenaz, zeloso na educação do filho que o chamava de pai, mas que não era filho dele, mas isso já é outra história. Ela, a loira, que me recebe à porta com aquele jeito brejeiro dela e eu entrando na casa e achando tudo muito bonito, a blusa dela amarela -revejo agora quão intenso e belo era o amarelo sobre a pele dela - e o filho que corre para brincar comigo, sempre sob os olhos vigilantes do pai.

Depois as cenas no quintal que na verdade é um cercado de arame, além do qual outro cercado enorme se abre com vacas leiteiras de um branco tão uniforme que todas parecem ser uma só. São as vacas do Zé das quais ele ordenha o leite que vende na cidadezinha bem abaixo do morro.

Estamos brincando, eu e o filho, então aparece aquele outro homem saído não sei de onde e, também, não sei como percebo entre ele e a loira, a mulher do Zé, a troca de um olhar, um só olhar que decide e ordena tudo. Depois é ela indo em direção ao mato enquanto o Zé cuida das vacas e o homem, pouco depois, seguindo na mesma direção enquanto o Zé ou percebe ou finge que não percebe que a mulher dele está com outro, lá no mato, escondida e nua, a certa distância de todos nós.

Não me lembro da loira voltando, só me resta o rosto triste do Zé que só agora, nesta noite, compreendo. Mas isso tudo já não importa e fico aqui me lembrando do Zé perto das vacas, da mulher dele no mato com aquele sujeito saído não sei de onde, de algo que na ocasião não entendi direito, mas que já não importa mesmo porque todas aquelas pessoas estão mortas e eu continuo aqui, sobrevivendo, lembrando-me delas.

Escrito por Ayrton Marcondes

27 maio, 2012 às 11:56 am

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Trair e coçar

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Tem gente pra tudo. Um cara que conheço foi traído pela mulher e, louco da vida, separou-se. Vendeu casa, carro, barco, terrenos, dividiu o dinheiro com a mulher, esconjurou-a e tudo o que queria na vida era nunca mais ver a desgraçada. Era louco por ela, sofreu que nem um cão. Quando me encontrava com ele falava barbaridades sobre aquela “prostituta” que o traíra com um Zé Ninguém, sujeito mal ajambrado, duro, sem nada, além do mais feio e desajeitado. Não se conformava por ser trocado por um cara assim ele, um sujeito elegante, bem de vida, endinheirado, ótimo partido e companhia para qualquer mulher, bonito até com os seus olhos claros e o cabelão bem cuidado, roupas de grife, Montblanc no pulso, Alfa Romeu do ano para andar por aí.

Aconteceu com ele, pode acontecer a qualquer um, mulher é mulher, ainda mais a dele que não era de jogar fora, bonita e com um corpão daquele de se fazer psiu. Pois. Pouco mais de um ano depois encontrei o gajo na porta do banco, saindo todo sorridente. A primeira coisa que fiz foi cumprimentá-lo efusivamente, dizendo que estava  na cara que ele havia superado o desastre, o grande trauma, era feliz de novo, por certo encontrara uma grande mulher, a mulher da vida dele, aquela para cujos braços um cara bom como ele nasce predestinado. Mais sorridente ainda ele concordou comigo: disse estar muito feliz porque mulher que a gente ama de verdade é uma só na vida, não tem jeito de amar tanto duas diferentes. Ao que eu disse que então a atual era a definitiva, aquela do passado fora episódica, o amor prega dessas peças na gente, mas a vida é boa porque tudo dá certo, ah como a vida é boa e Deus justo.

Pois é. Depois que falei essa baboseira toda o sorriso dele se fechou um pouco. Ainda era sorriso, mas daqueles contidos de quem vai fazer uma revelação, confissão das grandes. Estaria ele, exigente que era, de caso com alguma beldade conhecida, dessas que aparecem em capas de revista e despertam desejos na massa incauta de machos? Nada disso. Qual não foi o meu espanto quando ele, um tanto divertido como um menino que acaba de fazer uma grande travessura me disse:

- É ela.

- Ela quem?

- Ora, a minha mulher, a única.

Rapaz, fui obrigado a me encostar à parede para não cair. Aquela “prostituta”, a “rampeira” que o traíra com o sujeitinho mal ajambrado, estava de volta ao lar para felicidades dele. Explicou-me que tudo não passara de um engano, mulher passa por crises assim, coisa comum nos trinta anos de idade. Ela pensara que se apaixonara pelo gajo, coisa, aliás, impossível com um camarada daqueles, feio e pobre. Para ser sincero – disse-me ele - a minha mulher jurou que nunca, de jeito nenhum, se deitou com aquele desgraçado que não merece a atenção de um casal tão feliz e inseparável como nós.

Tenho comigo que ao acordarmos de manhã deveríamos ser avisados sobre possíveis grandes surpresas a acontecer nas horas seguintes. Seria muito justo que nos avisassem para que não ficássemos como fiquei ali, na porta do banco, estarrecido, olhando para aquele homem que decidira acreditar no que lhe convinha e era tão feliz, enormemente feliz, por acreditar.

Não vou contar o resto da conversa porque não houve resto da conversa. Desejei felicidades, arranjei uma desculpa qualquer para a minha súbita pressa e entrei no banco convicto de que existe uma ordem superior das coisas que determina que esta vida seja irremediavelmente absurda e ponto final.

Agora leio que um rapaz em Londres traiu a mulher e anda pelas ruas com um cartaz pregado no peito no qual se lê que ele traiu a mulher e pede perdão, quer ser readmitido em casa. Carrega o cartaz para penitenciar-se de uma falha, de um erro grosseiro porque ama a mulher, daí purgar-se publicamente por seu enorme pecado.

Do que concluo que os seres humanos são criaturas irremediáveis.

Um caso chato

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Um amigo me pergunta qual a coisa mais chata do mundo. Repondo que isso depende de cada um: o que é chato para uma pessoa pode não ser para outra. Ele insiste, questionando sobre as coisas que acho muito, muitíssimo chatas. Eu me coloco na defensiva. Não quero responder, não estou com vontade de pensar no caso, na verdade gostaria de ouvir um pouco o silêncio e hibernar em plena tarde de calor intenso.

No fim, olho para o meu amigo e tenho vontade de dizer que ele é um cara chato, chatíssimo. Não digo nada. Esse cidadão passa por crises periódicas desde que foi abandonado pela mulher. Ela, como é de conhecimento público, amasiou-se com um personal trainer que vinha à casa dela para ajudá-la a manter a forma. Enquanto isso, o cioso e apaixonado marido dava duro no emprego abusando da vocação masculina de trazer dinheiro para casa e garantir segurança à família. O homem da família é tudo, não é? Não é ele que deve pagar as contas? Não é ele o exterminador de baratas, ratos e outros seres que ousam invadir o lar? Mas, cuidado, muito cuidado, isso é o que se recomenda aos heróis que de repente sentem o chão faltar sob os seus pés, passam a ter crises de taquicardia e sofrem o diabo pela perda do ente amado.

forteConfesso que esse meu amigo não era tão chato em seus tempos de casado e chefe da sua trupe. Depois que ficou sozinho ele deu para se lamentar e isso foi se agravando, até que ele se tornou homem de um papo só. Religioso que sempre foi, chegou a desentender-se com Deus acusando a Ele de insensibilidade diante do sofrimento. Pareceu a esse pobre sofredor que sua vida pregressa não poderia, jamais, ser coroada com tão severa punição. A desgraça que sobre ele se abatera, pondo fim a mais de uma década de felicidade, era injusta e irracional, desafiando toda a lógica e entendimento. Mais que isso: por que ela o trocara por aquele instrutorzinho, homem de músculos, mas feio, grosseiro e de escassa inteligência? Por que ela que gostava tanto de ouvir o marido a recitar os poemas de William Carlos Willians, em inglês, de repente preferira a selvageria do pequeno símio que vinha à sua casa para as sessões de ginástica? Seriam sinais dos tempos? Seriam verdadeiras as histórias contadas por aí dando conta de que este país está se desintegrando intelectualmente dada a pertinaz campanha de que qualquer pessoa pode chegar lá?

Tudo isso e muito mais tenho ouvido do meu amigo nas visitas que me faz. Ele sempre chega ao final da tarde e já pensei em não atender o interfone. Mas, não tive coragem. A meu modo quero bem a esse cara que, no passado, me prestou alguns favores. Espera aí, eu não o recebo para pagar nenhum débito: ele é um bom sujeito, dos tais probos que não se acham mais hoje, daí que me sinto bem em partilhar um pouco a dor dele.

Das longas conversas com esse homem abandonado resta uma certeza: ele acredita piamente que, mais cedo, mais tarde, a mulher vai voltar. A pior parte é que ele garante que no dia em que ela vier procurá-lo baterá com a porta na cara dela. Que ela fique com o carinha musculoso, tesão não é tudo, tesão passa, sexo em estado puro só é bom enquanto dura porque acaba enjoando.  Quando repete essas coisas, deixando escapar uma lágrima bem disfarçada, penso que ele jamais baterá a porta na cara dela: vai mandá-la entrar, fará um enorme charme, imporá condições. Mas, vai se deitar com ela no mesmo dia, porque paixão é paixão e tesão é tesão, não tem jeito não.

A mulher? Ah, ela me ligou dias atrás. Estava radiante, rindo muito, com aquele tom brejeiro que as mulheres assumem quando acreditam ter-se livrado de um fardo. Não perguntei, mas ela me disse que o Henrique – esse o nome do personal – é um cara ótimo, muito alegre etc. Disse mais: faz questão de que eu o conheça, vai combinar um dia para virem à minha casa.

Quando ela desligou pensei na necessidade de comprar um aparelho qualquer de ginástica para manter o personal ocupado - caso venha aqui – enquanto eu e ela conversamos.

Pelo amor de Deus, não tenho nada contra personal trainers. É que o meu amigo jura conhecer bem esse que está com a mulher dele e garante que o cara é uma pequena anta.

A mulher do meu amigo é muito bonita, fina e educada. Pode até ser que se canse do personal e acabe por deixá-lo. Mas não voltará de modo nenhum com o antigo marido. Acontece que o meu amigo é um cara chato, metódico, bem comportado demais, daqueles que usam camisa de manga curta com o colarinho abotoado, mesmo em dias de muito calor. Uma figura.

Ah, e o meu amigo não tem os tais músculos do outro. É magrinho e está agora mais magro ainda de tanto que anda sofrendo.

A nega é minha, ninguém tasca

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Um juiz julgou improcedente o pedido de indenização movido por um policial traído pela mulher. A indenização deveria ser paga pelo ex-amante da mulher já que o policial, por causa da traição, tornou-se alvo de chacota no seu ambiente de trabalho.

A sentença do juiz é uma peça interessante. Após classificar o policial como “corno solene”, o juiz lembra que alguns homens enfrentam problemas relacionados à virilidade e passam a culpar suas mulheres por esse fato, acusando-as de gordas etc.

Segundo o juiz o marido não se acha responsável pela situação, daí não aceitar que a mulher procure um amante e ameaçar matá-lo. Após sugerir ao marido traído que procure um psiquiatra o juiz avisa que a vitima não deve perder de vista que “a nega é minha, ninguém tasca, eu vi primeiro” é só uma letra de samba. Termina dizendo que “pássaro que aprende a voar livremente não se adapta mais à gaiola… só se muito bem cuidado”.

Não se pode negar que se trata de uma sentença bem-humorada. E quem sou eu, primo, para duvidar do acerto de uma sentença como essa.

Mas o assunto é interessante e nos leva a outras situações presenciadas ao longo da vida. Tenho um amigo que elaborou uma curiosa hierarquia de homens cornos que, se bem me lembro é a seguinte: os que não aceitam a condição; os que aceitam; e os que não aceitam durante um tempo, mas acabam voltando atrás. Note-se que aí não está incluído o grande contingente dos corneados que jamais souberam que foram traídos.

Tenho certeza de que cada leitor é capaz de ilustrar as diferentes condições anteriormente apontadas, relembrando casos que presenciou ou de que teve notícia.

Da minha infância trago uma lembrança de um fato que só vim a entender anos mais tarde em conversa com um dos meus irmãos. Presenciei, certa vez, uma cena de filme: numa cidade do interior vi um homem ajoelhado diante da porta de um ônibus chorando e rogando a uma mulher que não fosse embora. Pela janelinha da jardineira que percorria estradas de terra um belo rosto de mulher observava impassível o homem que bradava a todos os ventos o seu coração partido.

Essa cena ficou gravada na minha memória. Ainda hoje consigo ver aquele homem alto e magro, branco como cera, ajoelhado na rua, chorando, inconsolável.

Como disse, só anos mais tarde vim conhecer detalhes da história. A bela mulher era casada com o cidadão inconsolável. Ela fora expulsa de casa após o marido descobrir que o traía justamente com um irmão dele. O rapaz, mais moço que o irmão, viera morar com o casal há alguns meses e o resto pode-se imaginar.

Então é assim que as coisas acontecem e as vidas se cruzam afetando destinos. Existem homens que convivem com a traição e outros para quem ela é inaceitável. Pessoas mais extremadas advogam que ninguém está seguro, é preciso cuidado. Isso é o que o juiz do caso citado quis dizer com aquela citação de letra de samba que, aliás, caiu muito bem na situação.

Então é isso, estão todos informados sobre a sentença do juiz.

Acabou? Como? E o que aconteceu? A mulher desceu do ônibus ou partiu?

Rapaz foi uma das cenas mais bonitas a que assisti nessa louca vida. O interessante é que, a certa altura, o motorista do ônibus, vendo o marido em prantos, resolveu perguntar à mulher se podiam seguir caminho.

A mulher disse que sim, mas logo que o ônibus saiu, parou metros adiante. E lá veio ela, formosa como uma flor desgarrada das nuvens, bonita de doer em seu vestido de lírios, correndo com na direção do marido que já se jogava ao chão em completo desespero.

Foi aí que ele renasceu: de um salto ergueu-se, foi em direção a ela e atracaram-se num beijo de dar inveja a muitos finais felizes de filmes.

Guardo essas cenas na memória e ainda agora me parece que o perfume exalado naquele reencontro está presente enquanto escrevo essas mal traçadas.

O fim? Ora, consta que, a partir daí, os três - ele, a mulher e o irmão dele - viveram felizes para sempre.

Escrito por Ayrton Marcondes

16 outubro, 2009 às 3:38 pm

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