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Folclore

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Meu sobrinho chega da escola pilhado. Na semana do folclore foi a ele apresentado o Saci. Quando as crianças voltaram do recreio encontraram tudo mexido na sala-de-aula. O Saci estivera lá. O danado bulira em tudo como, aliás, de seu costume.

Mas, as coisas não pararam por aí. Sendo semana do folclore o Saci continua em ação. De modo que, mesmo em casa, cuidados devem ser tomados. E muita vigilância. Naturalmente, demos alguma ajuda às desordens praticadas pelo Saci. Sem que o menino percebesse, fizemos algumas desordens. Pronto, o Saci realmente estava em ação. E o menino foi dormir de olhos bem abertos por conta do Pererê.

A lembrança do Saci levou-me a um retorno à infância. Revi o menino de cor negra, gorro vermelho, uma só perna, fumando cachimbo e pulando muito. Aprontando sempre traquinices de toda sorte. Com o Saci também retornaram as histórias da minha infância que hoje, infelizmente, nãos e contam mais. Morávamos num lugarejo de menos de 500 habitantes, todos conhecidos um dos outros. Naquela época a energia luminosa faltava com enorme frequência. Era comum a queda de uma das fases de modo que a luz bem fraca perdurava por muito tempo. Eis aí um mundo povoado por fantasmas, sacis, lobisomens, mulas-sem-cabeça e outros tantos seres fantásticos. Coabitávamos com almas do outro mundo que, aliás, jamais víramos. Mas, elas estavam presentes, disso tínhamos certeza. O pai de um colega de escola morrera ao cair do cavalo, assustado que fora pelo surgimento inesperado de um Curupira. Nas madrugadas frias da montanha era comum ouvir-se o ruído do galope de um cavalo que seguia sem seu cavaleiro. A coisa acontecia em certo dia do mês na qual, supunha-se, o cavaleiro fora assassinado e o cavalo voltara à casa sem seu dono. Assim, ficara condenado, pela eternidade, ao triste trajeto.

A narrativa oral há de persistir nesses interiores do Brasil, embora traída pelas novelas. Muitas das histórias que ouvíamos dos mais velhos, naquelas noites, mantinham ligações com tradições folclóricas de origem europeia, trazidas ao novo mundo pelos imigrantes. Nesse sentido nunca será demais recordar-se do grande mestre Luís da Câmara Cascudo, autor de vasta obra relacionada ao folclore. Em seu livro “Contos Tradicionais do Brasil” o mestre nos ensina que as características do conto popular são: antiguidade, anonimato, divulgação e persistência. Ele explica:

“É preciso que o conto seja velho na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento, e persistente nos repertórios orais. Que seja omisso nos nomes próprios, localizações geográficas e datas fixadoras do caso no tempo.”

22 de agosto é o “Dia do Folclore”. Importante recordar a importância do folclore na educação infantil.