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Skidmore e o Alzheimer

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Doença é sempre problema, ainda mais quando se sabe que para algumas delas não existe cura. Pessoas idosas temem ser surpreendidas por sintomas que indiquem a presença de doenças graves. O câncer, por exemplo, é sempre uma pulga atrás da orelha. Você até sabe que entre os seus ancestrais um ou outro teve a doença daí que a genética não favoreça tanto que você venha a tê-la. Mas, como confiar no corpo que envelhece, nas células que de repente podem começar a se dividir anormalmente, rapidamente, formando um tumor?

De todos os males possíveis os que mais me impressionam são os ligados ao funcionamento do sistema nervoso. Cérebro é coisa que se quer funcionando bem até o fim da vida para que não se perca a capacidade de raciocínio, de escolhas, de discernimento. Daí que fiquei muito impressionado com a entrevista concedida pelo brasilianista norte-americano Thomas Skidmore. Ele tem agora 80 anos de idade e vive num asilo, morando num quarto para dois pacientes. A doença de Skidmore é o mal de Alzheimer, processo degenerativo que evolui para demência. Skidmore está na fase inicial na qual apenas as memórias recentes são perdidas e as mais antigas preservadas. A expectativa para os doentes de Alzheimer é a evolução para estados de confusão mental, falhas na linguagem, agressividade e finalmente o alheamento da realidade.

Skidmore é muito conhecido entre nós. Publicou livros sobre o Brasil como “De Getúlio a Castelo” e “De Castelo a Tancredo”. É um brasilianista, palavra usada para caracterizar estrangeiros que escrevem sobre o Brasil. Na época do regime militar tínhamos bronca dos brasilianistas, acusados que eram eles de ter livre acesso a documentos vedados a pesquisadores brasileiros. Daí que o termo “brasilianista” adquiriu sentido pejorativo que talvez ainda perdure entre alguns intelectuais. No passado presenciei em conversas verdadeiro desprezo pelo trabalho dos brasilianistas ainda mais pelo fato de terem a oportunidade de se instalar no Brasil e serem financiados.

A situação atual em que se encontra Thomas Skidmore incomoda. As fotografias mostram um homem idoso ao lado dos livros que foram e continuam a ser o objeto de sua vida. Olhando para ele não há como não pensar na crueldade com que o destino decidiu tratar esse intelectual de cujo cérebro, progressivamente, serão suprimidas todas as informações até o alheamento final.