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Valentia

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De repente me lembrei daquele Vicente, homem fechado, contido dentro da violência que nele era natural. Era do tipo lhano, boa gente, educado. Tinha o temperamento dos vulcões que quedam silenciosos até que, sem aviso, entram em erupção. No Vicente as lavas podiam ser golpes de faca ou mesmo balas de revólver. Sobre ele pesava o assassinato de um tio que o roubara na divisão dos lucros da lavoura. Certo domingo esperou pelo tio que voltava para casa: na curva da estrada acertou-o com um disparo fatal.

Vicente, a quem conheci em meus tempos de menino, era um sujeito duro e valeu-se disso nos anos em que esteve na prisão. Saiu de lá e voltou para o seu meio como se nada tivesse acontecido. Não se importava com a lei dos homens. Fizera justiça com as próprias mãos punindo a quem o lesara. Depois disso continuou sendo o homem de sempre sem se afastar um só milímetro de seu perfil natural.

A memória do Vicente me veio ao ler sobre um homem que jogou o carro que estava dirigindo sobre várias pessoas, ferindo-as. Esse fato corrobora com a tese de que dentro de cada homem existe um vulcão que pode acordar de repente de um longo sono. Assim, inesperadamente. Pode até acontecer que a explosão ocorra no íntimo de alguém que nunca tenha demonstrado qualquer sinal de apelo à violência. Mais que questão de temperamento, eis aí um modo de ser que habita as heranças que trazemos de nossos antepassados remotos.

Nos EUA dá-se muito valor ao comportamento assumido por pessoas quando sob pressão. Essa característica é levada em conta quando se trata de candidatos a cargos executivos. Um presidente do país não pode ter um piti num momento de crise pois isso poderia ter consequências graves.

No fim das contas vale dizer que o homem é um animal. Domesticado, socializado, ainda assim um animal que, inesperadamente, pode entrar em erupção.

Escrito por Ayrton Marcondes

24 fevereiro, 2014 às 11:35 am

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