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Aquele rapaz sentado na banqueta é mesmo danado. Acontece toda vez que uma nova funcionária desperta o interesse dele. Em geral trata-se de uma mocinha, nem sempre bonita, mas bem ajeitada. Então o rapaz espera o fim do turno de trabalho dele e vai se sentar na banqueta, lugar estratégico para observar as mulheres trabalhando nos computadores.

Não é ficção: o rapaz existe, a nova funcionária também. O que não deveria existir é mesmo o sucesso da técnica de conquista usada por ele. A banqueta fica em posição onde se torna impossível correr os olhos, no ambiente de entorno, sem vê-la e a quem a utiliza. E o rapaz fica lá, imóvel, olhos cravados na moça, pernas longas esticadas em desaprumo. Ele não diz nada, não sorri, dir-se-ia uma ave em seu galho observando o movimento. A moça parece resistir embora tudo indique que acabará sucumbindo, como as anteriores.

Então existiram anteriores? Mesmo? Sim, sim, todas abordadas e seduzidas com a mesma técnica da presença opressiva, absoluta dessa ave de rapina que espera o momento de agarrar sua presa. Houve aquela mocinha, a baixinha de corpo bonito, que chegou a reclamar da insistência dos olhares dele, mas acabou se apaixonando. A outra, a japonesa que dizia ser casada, que nem se deu ao trabalho de reagir e foi logo se entregando ao assediador. E algumas outras, sendo que em ocasiões nunca se soube ao certo sobre o desfecho que os casos tiveram.

Flertes assim despertam muitos falatórios e poucas certezas. Mesmo aquele marido que se descobriu traído e apareceu para tirar satisfações acabou se desculpando tal foi o modo como o rapaz se isentou de qualquer tipo de relacionamento com a mulher dele. Mas, de uma coisa todos estão certos: as moças atraídas pelo estranho comportamento do assediador em pouco tempo pedem demissão de seus empregos.

O fato é que esse rapaz deveria ser vigiado por gente do governo justamente por contribuir para as estatísticas de desemprego no país. Por outro lado, não há como não admirar o modo como esse garanhão ataca suas vítimas. Ele é um cara quieto, de pouquíssimas palavras, alto e magro e, para falar a verdade, destituído de beleza. Aposta em sua onipresença e tem faro para detectar moças solitárias à espera de algum príncipe, ainda que falte a ele maior encanto.

Nesse momento uma nova funcionária acaba de ser contratada e inicia o seu período de experiência. De uma semana a hoje o rapaz voltou a sentar-se na banqueta, sinal de que a moça talvez não fique muito tempo no emprego.