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Receita para a venda de antibióticos

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Começa a vigorar a determinação que obriga o uso de receitas para a compra de antibióticos. Pessoas acostumadas a comprar livremente antibióticos em farmácias a partir de agora deverão, antes, ir a médicos que os prescrevam, caso eles sejam realmente necessários.

O consumo de remédios sem prescrição médica é hábito no Brasil. Pessoas se automedicam a seu bel-prazer ou recebendo indicações de amigos e mesmo de funcionários de farmácias. É assim que uma dor de garganta - muitas vezes simples irritação que pode ser resolvida com gargarejos – é tratada com antibióticos. 

Ouvi pessoas comentando o assunto, uma delas ponderando que a proibição de venda de antibióticos sem receita é armação de convênios e médicos para maiores lucros etc. Pura bobagem. O consumo de antibióticos sem necessidade é um excelente mecanismo de seleção natural de bactérias resistentes. Para que se entenda o que isso significa basta imaginar que no organismo podem ser encontradas diferentes bactérias que competem entre si pela própria sobrevivência. No momento em que antibióticos são utilizados, bactérias não resistentes a eles são destruídas enquanto as resistentes sobrevivem. Note-se que agora as bactérias resistentes não enfrentam a competição das demais e podem proliferar mais facilmente. Essas bactérias passam de uma pessoa a outra o que nos permite concluir que o uso indiscriminado de antibióticos por uma ou várias pessoas contribui, cada vez mais, para o selecionando das piores bactérias. É assim que, com o tempo, surgem as tais superbactérias sobre as quais se tem falado tanto ultimamente. Uma superbactéria é extremamente resistente a vários tipos de antibióticos e sua presença em organismos debilitados pode ser fatal.

A essa altura importa dizer que os antibióticos não induzem as bactérias a se tornarem resistentes. Ao contrário: antibióticos utilizados indiscriminadamente apenas selecionam bactérias resistentes. Exames de laboratório ou indicações médicas de antibióticos para casos de infecções por agentes conhecidos são eficazes e curam.

Enfim, o que importa é que tudo seja feito com critério. Pessoas que se automedicam em geral o fazem de forma errada, correm o risco de ingerir doses inadequadas ou dão por terminado o tratamento assim que os sintomas desaparecem - é preciso lembrar-se de que antibióticos devem seu utilizados em dosagens certas e durante períodos determinados.

Há menos de um mês perdi um amigo que, necessariamente, não devia morrer. Teve ele um AVC cerebral do qual se recuperou rapidamente em hospital. Infelizmente, durante a internação hospitalar, o meu amigo foi infectado por uma bactéria extremamente resistente que provocou a morte dele. Não tenho notícia se o meu amigo foi vitimado pela superbactéria que tem causado tantas mortes em hospitais.

De todo modo, a obrigatoriedade de receita médica para o uso de antibióticos é muito benvinda. As pessoas que discordarem ou acharem que se trata de uma restrição à liberdade de escolha do cidadão devem refletir sobre a importância da medida que, afinal de contas, visa apenas a preservação da saúde das pessoas.