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Rogério Ceni

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Não há como não se emocionar com o feito de Rogério Ceni. À carreira do grande goleiro soma-se o ineditismo de completar 100 gols marcados contra as redes adversárias, todos eles vestindo a camisa do São Paulo FC.

Já há alguns anos Rogério vem se distinguindo como caso a parte no mundo do futebol dada a sua dedicação e equilíbrio. Profissional correto, ele encarna um perfil nem sempre imitado pelos atletas da bola, muitos deles seguindo caminhos nada exemplares proporcionados por altos salários e facilidades oriundas da fama. De fato, são muitos os casos de jogadores de futebol que ascendem à condição de celebridades, mas, infelizmente, não se mostram à altura do destaque que alcançam. Salários altíssimos, vida de príncipes e muita tietagem geram comportamentos destoantes, implicando em situações por vezes desconfortáveis, senão perigosas. Não será preciso nomear aqui craques de imenso potencial que precocemente entram na curva descendente de suas carreiras em consequência de comportamentos e posicionamentos inadequados.

É no controverso mundo do futebol, onde em geral o que fala mais alto são as paixões, que Rogério Ceni se destaca, sobressaindo-se a seus pares não apenas por suas conquistas, mas pelo papel de liderança que tem assumido, constituindo-se em exemplo para jovens talentosos que iniciam suas carreiras nos gramados.

Há muitos anos, no tempo em que o rádio era o principal veículo para transmissões futebolísticas, um comentarista dizia que um grande time começa por um grande goleiro. Como se sabe, nos últimos anos o São Paulo vem se destacando como equipe vencedora e não há como dissociar as conquistas tricolores da presença e liderança de Rogério Ceni. Infelizmente, como acontece aos que brilham, a luz excessiva incomoda, fato que tem despertado a ira de outras agremiações contra as hostes tricolores. O fato é em si salutar porque futebol, como se disse, é movido a paixões e numa competição o que vale é desbancar aquele que vence para outro tornar-se vencedor. Entretanto, o que se tem visto são articulações extracampo com a produção de tabelas nas quais o tricolor vê-se em desvantagem, sendo direcionado para horários nos quais é impossível a transmissão de seus jogos pelo Campeonato Brasileiro. Esse fato resultará em prejuízos consideráveis porque, como se sabe, boa parte do dinheiro arrecadado pelas equipes de futebol provém do pagamento pelas transmissões televisivas. A isso se acrescente a enervante descaracterização do Morumbi como estádio apto a sediar o jogo de abertura da Copa do Mundo – assunto finalizado, ainda bem – e mesmo o fato da CBF não escolher o estádio – o maior de São Paulo – para jogo próximo da seleção brasileira.

Foram os fatos anteriormente citados que certamente levaram Rogerio Ceni a comportar-se um tanto passionalmente no momento de sua comemoração pelos 100 gols, alfinetando a CBF e a Globo, adversários do clube na questão de direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro.

Mas, o que importa é que Rogério Ceni está em festa, merecidamente. Torcedores que gostam realmente de futebol, independentemente de suas preferências clubistas, também estão felizes. Para quem vê no futebol uma arte, presenciar a superação de um atleta é prêmio dos grandes e inesquecíveis.

Vida longa ao goleiro do São Paulo.

Ao meu tio Edésio - notícias sobre o futebol

com um comentário

Escrevo para dar noticias sobre o seu esporte favorito: o futebol.

Em primeiro lugar vou falar sobre o seu time do coração, o São Paulo, que o senhor em momento inspirado apelidou de “Colosso”. Pois o Colosso vai mais ou menos bem, obrigado. Depois de ganhar pela sexta vez o Campeonato Brasileiro, o Colosso se acomodou e deu para perder competições. Foi assim com o Campeonato Paulista e a Taça Libertadores da América. Agora o Colosso está na disputa do Campeonato Brasileiro, mas com tantos altos e baixos que o melhor é não acreditar muito que ele possa vir a ser campeão.

Na verdade, tio, o futebol mudou muito de uns anos para cá. Cada vez mais um grande negócio, o futebol de hoje globalizou-se no pior sentido do termo: os bons jogadores atuam fora de seus países e só se reúnem para jogar pelas seleções nacionais. Posso garantir que o senhor acharia realmente incrível o fato de a Seleção Brasileira entrar em campo, hoje em dia, sem nenhum jogador atuando no Brasil. Pois isso acontece muitas vezes dado que os jogadores estão mais para caixeiros-viajantes de sua arte que atletas de futebol.

Tudo muito diferente, tio, dos bons tempos em que sabíamos as escalações dos times e quem jogava nessa ou naquela posição. E olhe que isso tem afetado até mesmo o amor à camisa: acredite o senhor que, na última Copa do Mundo, o Brasil foi desclassificado e os jogadores saíram de campo como se tivessem participado de um jogo de várzea, alguns muito sorridentes. Atrás deles um país inteiro torcendo e sofrendo. Tio, eu não me envergonho de confessar: quando vi aquilo me senti um grande idiota por ter torcido pelo Brasil. Pode uma coisa dessas?

Mas, voltemos ao Colosso. O grande clube está envolvido com a realização da Copa do Mundo de 2014 que acontecerá aqui no Brasil. O senhor deve se lembrar bem do Morumbi, o campo sagrado dos tricolores. Lembra-se, também, da dureza que foi o período de construção do estádio durante o qual o senhor e outros tricolores fanáticos sofreram muito porque o Colosso não tinha dinheiro para montar um bom time. Anos e anos de luta e sofrimento da torcida resultaram na posse de um grande estádio, orgulho da cidade de São Paulo e palco de jogos memoráveis. Pois agora, o Morumbi é o estádio mais cotado para a realização de jogos da futura Copa do Mundo na cidade de São Paulo.

Entretanto, meu caro tio, não é que um tal Joseph Blatter, presidente da FIFA, deu de falar mal do  Morumbi, dizendo que não serve para a Copa e outras barbaridades? O mais triste é que tem muita gente de outros estados vibrando, o que é inaceitável – trata-se da velha rivalidade. A verdade é que Blatter rebaixou o estádio que tem o apoio do governo do Estado e da prefeitura da capital. Tem gente por aí falando em lobby de outros estados contra São Paulo. No final das contas o que a FIFA diz é que o estádio não tem condições de abrigar 65 mil pessoas e assim por diante. Os dirigentes do Colosso discordam, afirmando que o clube fará a sua lição de casa e atenderá às exigências da FIFA até a realização da Copa.

Aliás, tio, não custa nada contar para o senhor alguma coisa sobre a FIFA. Imagine que essa entidade negociou com “alguém” do governo - que ninguém diz quem é - a isenção total de impostos para patrocinadores, fornecedores, enfim todas as empresas ligadas à realização da Copa do Mundo. Trata-se de muito dinheiro, uma enormidade de negócios. Só que agora o pessoal da Receita Federal, que pelo jeito acaba de saber disso, está se opondo a esse absurdo. Ainda bem.  Imagine o senhor que todos nós aqui damos um duro desgraçado e o governo do país nos impõe uma das mais altas taxas de impostos do mundo. Ai vem para cá essa turma toda e, na cara dura, é favorecida. Pode? O senhor não acha um absurdo?

Pois é. Mas, tio Edésio, isso não é tudo. Veja que tamanha desfaçatez baseia-se numa exigência da FIFA para a realização da Copa no Brasil, exigência essa que foi aceita por “algum negociador” que certamente não agiu sozinho. Esse(s) negociador(res) deve(m) ter até um chefe, tio, embora nisso as coisas não tenham mudado porque “neste pais” ninguém sabe de nada quando a podridão vem à tona.

O que espanta é que a FIFA, presidida pelo tal Blatter (o Havelange deles), não é um negócio pequeno, muito pelo contrário. A entidade movimenta por ano cerca de metade do PIB da Argentina, país que faz parte do G-20, o grupo de países que conversa sobre a economia do mundo. É dinheiro prá caramba que a FIFA movimenta, muito mais que o PIB anual de inúmeros países.

Diante disso tudo, a alegria que resta é a de dar a louca nos jogadores e o Colosso vencer o campeonato deste ano. Se acontecer, prometo escrever contando tudo para que o senhor comemore aí.

Tio Edésio eu raramente escrevo cartas, o senhor sabe como é isso.  Mas hoje me deu vontade de enviar essas mal traçadas.  O senhor nos deixou há muito tempo e o mundo em que vivemos está bem diferente daquele que o senhor conheceu. Mas, não se preocupe: continuo o mesmo cara de sempre, talvez um pouco fora de moda por acreditar em valores que têm sido esquecidos por boa parte das pessoas.

Essas são as notícias aqui da terra que eu queria passar para o senhor que, tenho certeza, continua sendo um grande apaixonado pelo futebol.

Um grande abraço e muita saudade.