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Carnaval

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Estão aí o carnaval e a folia. As escolas de São Paulo aprimoram-se em luxo e riqueza. As do Rio fazem do Sambódromo palco de evento de fantástica magnitude. Fora esses lugares o carnaval se espalha pelos quatro cantos do país. Quem resiste ao apelo do Galo da Madrugada no Recife?

Nem adianta dizer que o carnaval mudou. Não é mais o mesmo? Não existe mais a folia pela folia?  Os estudiosos que me perdoem, mas carnaval é festa orgulhosa demais para se dar ao desfrute de ser explicada. É festa que faz parte da alma coletiva do povo, a tal alma madrugada do povo Emboaba. É festa dançada a samba, frevo e todos os gêneros de batuque. O carnaval é o filho um pouco mais comportado do entrudo que gerou essas formas tão desconexas de comemoração nas quais a única lógica possível é justamente a falta de lógica.

Mas, nada disso importa muito. O que continua valendo é a alma do folião. Estou me referindo ao folião de raça como o do samba do Ari Barroso: aquele que se acaba num cordão e só volta para casa na quarta-feira, cantando a Jardineira. Pois esse folião existe, ele é parte essencial do imaginário nacional, sem ele não há carnaval.

Do folião de raça, desse folião de samba que tem poesia na letra, deriva o exército de foliões que toma as ruas sob o som da batucada infernal. O Brasil só continuará a ser Brasil enquanto de repente, não mais que de repente, um sambista dobrar a esquina com um pandeiro na mão. A figura desse sambista-padrão todos conhecem: chapéu de malandro, camisa listrada, calça e sapatos brancos, o sorriso maroto. Sem esse cara o Brasil não é o Brasil, as mulatas não rebolam, as passistas ficam congeladas num último movimento, as escolas não vão para a pista, não há samba-enredo, não existe carnaval.

É carnaval. Que venham os abre-alas. Quem não quiser entrar no cordão, pelo menos sorria. A alegria geral não foi feita para deixar ninguém de fora. Meu caro, considere: nós brasileiros já vivemos na pipoca dos acontecimentos, naquela estreita margem dos que não tem nome e acompanha o cortejo do dia-a-dia. Pois nesses quatro dias, vamos entrar na outra pipoca, essa que corre atrás dos trios elétricos.