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Buenos Aires

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Buenos Aires continua a ser a boa e velha cidade de sempre com seus prédios antigos e imponentes à européia. Há, sim, uma mudança significativa que só é percebida por aqueles que a frequentam há muitos anos: como outras capitais da América do Sul, Buenos Aires perdeu boa parte do seu glamour em seu embate com a pobreza. Já não circula pelas ruas tão famosas como a Florida, a Tucuman e a Corrientes o povo orgulhoso que as percorria no passado. Sucessivas crises políticas e econômicas quebraram o orgulho argentino, por vezes considerado excessivo pelos povos vizinhos.

Entretanto, a combatividade e politização permanecem inalteradas na Argentina. Há no modo de ser do povo uma fibra incomum que se traduz na agressividade das críticas. Os jornais são mais incisivos e combativos. Pregados em bancas de jornal e outros lugares existem cartazes acusadores que dão nome aos bois chamando esse ou aquele político de bufão, patoteiro e mentiroso. O argentino médio posiciona-se criticamente em relação ao que acontece no país. Os motoristas de táxi têm opinião formada sobre a situação local e adoram conversar com brasileiros para trocar figurinhas sobre coisas dos dois países.

A política argentina é dominada pelos figurões de sempre ligados a antigos movimentos que arrrastam multidões como o peronismo. Isso parece conferir aos políticos representantes de velhas facções um público cativo que os elege. Talvez por isso o país sobreviva, politicamente, dentro de linhas de ação difíceis de mudar ainda mais porque pressionadas por crises econômicas que resultam na pobreza atualmente muito evidente nas ruas.

Num país onde o culto à pessoa é uma tradição – vide Perón e Evita – a mulher que preside o país recebe toda a atenção. Cristina – é assim que os argentinos a chamam – está nas manchetes dos jornais com o seu nome em letras garrafais. É Cristina isso, Cristina aquilo, Cristina que está cuidando mais da aparência para remoçar, Cristina que só vai à Casa Rosada de helicóptero e assim por diante. Discorda-se de Cristina, fala-se e corrupção do governo, mas existe em relação à presidente algo maior que o simples respeito, talvez um pouco da tradição de culto a personalidades importantes.

Dos orgulhos argentinos um inabalável é Borges. O escritor está em toda parte como referência de cultura, expressão do povo. Continua a ser lido e estudado como demonstram os inúmeros livros sobre ele e sua obra, encontrados nas livrarias.

Por falar em livrarias, Buenos Aires continua imbatível nesse setor fazendo inveja a outras capitais, mesmo São Paulo. Há toda uma tradição no modo de ser das livrarias argentinas que resistem bravamente às crises econômicas. O diferencial da língua falada ser o espanhol abre enorme perspectiva de publicações, daí serem encontradas obras publicadas não só na Argentina como na Espanha e demais países latino-americanos. Contam, portanto, os argentinos com um largo espectro cultural que pode ser observado em coisas simples como jornais diários que trazem notícias de seu país ao lado de outras da Espanha e demais países de língua espanhola. Como sempre é indispensável a quem vai a Buenos Aires uma passada pela livraria El Ateneo Grand Splendid, na Rua Santa Fé. Localizada em um antigo teatro a El Ateneo é de rara beleza além de ser uma das maiores livrarias do mundo.

Para o turista Buenos Aires continua a ser uma festa. Ao lado de atrações culturais, shows de tango e a boa comida dos maravilhosos restaurantes de Puerto Madero o visitante encontra de tudo  o que fazer não só em Buenos Aires como em seu arredores. Uma visita à cidade de Tigre, próxima a Buenos Aires, com direito a passeio de barco entre as ilhas do delta do Rio Paraná é uma grande pedida.

Do que se fala pouco no momento é sobre futebol. Loucos por esse esporte os argentinos não se conformam com o baixo rendimento da sua seleção. As críticas ao técnico Maradona são muitas, inclusive por ele estar, no momento, descansando num SPA, na Espanha, enquanto o país corre o risco não participar da Copado Mundo.

A seleção nacional argentina vai mal porque se formaram dois grupos de jogadores que não se falam.

- É tudo por dinheiro, só jogam por dinheiro – diz o balconista de uma loja acrescentando que o que importa mesmo é o desempenho no campeonato argentino do Racing, o clube do seu coração.