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A rotina do céu

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Gilles Lapouge escreve em “ O Estado” sobre o racismo que ameaça a Suécia. País onde há respeito à democracia e os direitos humanos são preservados, na Suécia vive um povo sério, tranquilo e imune ao ódio e xenofobia que predomina em toda a Europa. Mas, de repente, essa ordem é abalada. Nas eleições de amanhã o partido dos Democratas Suecos, radical e xenófobo, ganha projeção. Como se explica isso num país de economia próspera, taxa de desemprego baixa e nível de vida bastante elevado? Lapouge responde:

“A monotonia acaba cansando e nada é mais fatigante que a virtude perpétua. O tédio com os longos invernos e essa beleza infinita da natureza - as pessoas estão fartas disso -, sonham com sangue, disputas, infelicidade, felicidade insana. Querem um pouco de ruído, tempestades.”

Fui criado dentro da crença católica. Acompanhava minha mãe à igreja, nas missas de domingo, e ouvia, nos sermões, as promessas sobre o céu. A ele chegariam as almas dos fiéis que, durante a vida nesse mundo convulso, se caracterizam pela boa conduta, ausência de pecados e assim por diante. O sacrifício aqui na Terra seria recompensado pelas delícias do céu. Aos maus, os pecadores, o inferno. Aos bons a glória no reino de Deus.

Não se sabe se as almas desencarnadas se despregariam das personalidades dos homens a quem pertenceram. Seguindo o raciocínio de Lapouge, cãs o mantenham alguma identidade é de se esperar que não se adaptem muito bem à monotonia do cotidiano celeste. O tédio e a beleza infinita de um céu onde nada de ruim acontece talvez as desesperariam. O homem é como é, criatura forjada com prós e contras, erros e acertos, naturalmente competitiva. A placides de um mundo no mundões fosse prodigalizado com a felicidade eterna talvez o fartaria.

Talvez por isso o céu das religiões não seja para todos.  A não ser que a alma, caso realmente exista, ao se despregar do corpo apague seu passado terreno e se integre à rotina de outra dimensão.

Bobagem? Quem sabe…