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Rotina de medo

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Há anos costumo ir à praia de manhã para correr um pouco. No passado conseguia percorrer alguns km, agora restrinjo a dois ou três, às vezes parando no meio para não forçar muito. Confesso que não gosto de fazer exercícios. Nunca frequentei academia ou fui orientado por algum personal trainer. Depois de muita relutância adquiri um aparelho simples que uso todo dia pela manhã. Mas, que ninguém se engane: os meus exercícios diários no parelho não passam dos dez minutos. Só me submeto a isso em nome de manter a minha saúde.

Mas, não foi para relatar minhas desavenças com exercícios que toquei nesse assunto. De correr sempre gostei, prezo muito essa atividade tão boa. Entretanto, de tempos para cá ando preocupado com as minhas idas à praia. Imagine que vi na televisão notícia sobre a instalação de câmeras da prefeitura com a finalidade de aumentar a vigilância no calçadão. Acontece que as tais câmeras não param de flagrar pessoas sendo abordadas por ladrões que as atacam durante as caminhadas ou corridas no calçadão. Os bandidos são velozes, em geral atacam em dupla que se aproxima em bicicletas. Sem descer das bicicletas eles fecham a pessoa que faz exercício e arrancam dela o que tiver consigo. De um senhor idoso arrancaram uma corrente que levava no pescoço, de outro um relógio. Simples assim, direto, à luz do dia, sob o sol. Roubam e saem em suas bicicletas velozes indo para outro lado da extensa orla marítima, buscando alguém distraído para surripiar dele alguns pertences.

Pelo que não tenho levado absolutamente nada comigo, ou seja, não tenho nada que possa ser roubado enquanto pratico os meus exercícios. Entretanto, um amigo me aconselhou levar comigo alguma coisa para poder entregar aos bandidos no caso de vir a ser abordado por eles. Talvez um pouco de dinheiro, de 20 a 50 reais, sirva para que eu possa me livrar deles sem maiores complicações ou prejuízos.

O que se passa é a naturalidade com que falamos sobre coisas assim. De repente tornou-se normal não só a expectativa de ser roubado como a de estar preparado para entregar aos assaltantes algo do agrado deles, impedindo que tenham ideia de praticar algum tipo de agressão. Tudo muito “normal” num mundo em que a violência é cotidiana e tornou-se incontrolável. Bandidos andam por aí escolhendo vítimas e pouco se dá a eles a vida de quem atacam. De fato a vida vale nada para quem tem a liberdade de dispor dela sem receio de punição.

Onde tudo isso vai dar não se sabe. As autoridades não têm coragem de confessar que perderam a batalha para o crime, quem sabe até a guerra. Pelo que parece só um milagre poderá fazer as coisa voltarem a ser como um dia já  foram. Por ora o trem está descarrilado e não há perspectiva de que venha a retornar aos trilhos.