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Clichês

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A cada ano centenas de novos filmes são produzidos em todo o mundo. Diretores criativos encenam tramas que atraem a atenção dos cinéfilos. Afinal, a arte é necessária. Não por acaso sentamo-nos nas poltronas de cinemas para deixar-nos levar por tramas ficcionais. O espectador sabe, de antemão, que o que vai assistir não passa de uma ficção. Mesmo quando o filme tem o cunho biográfico ou aborda acontecimentos anteriormente vividos, ainda assim não deixa de ser obra ficcional dada a inevitável presença da interpretação de quem o produziu. Enfim, precisamos da arte. Depois de um dia no qual enfrentamos situações diversas faz-se necessário conceder ao espírito momentos de imersão no terreno imaginário.

Entretanto, existem bons e maus filmes. Além dos altos custos da produção cinematográfica nem sempre a obra exibida conta com a assinatura de um bom diretor. Além do que a qualidade do enredo abordado influi no interesse do espectador pela obra em questão.

Num universo de tantas narrativas sempre existe a possibilidade de alguma repetição. Não se trata de plágio. Todo mundo que assiste a um faroeste sabe que, mais cedo ou mais tarde, surgirá na tela pelo menos um duelo, em geral vencido pelo representante do bem. Nem por isso os inúmeros duelos exibidos nas telas são iguais ou simples plágios. Os duelos nascem de situações diversas, são desempenhados por atores diferentes etc.

Mas, então, qual o problema? O que incomoda é o uso de clichês. Em certos filmes são tantos que chegam a nos fazer arrepender pela perda de tempo em assisti-los. É o caso de se perguntar sobre a razão de se produzir um filme cujo roteiro previsível já foi filmando muitas vezes antes.

Tempos atrás fui ao cinema para um filme no qual o protagonista principal tem uma bela mulher e uma filha que o ama muito. Nada ameaça a vida dessa família. Entretanto, circunstancialmente, bandidos decidem buscar numa cabana pertencente ao casal por algo que a eles pertence. Na ocasião o protagonista está na cabana, tendo deixado sua mulher à casa, na cidade. Certo de que será morto pelos bandidos eis que o protagonista descobre a presença da filha que viera escondida no porta-malas de seu carro. Tem ele agora dois problemas: livrar-se dos bandidos e proteger a filha. O resto é previsível. O protagonista- herói mata os bandidos, não se antes ter que lutar com o chefe deles que, por acaso, se apoderara da menina. A presença da filha, obviamente, foi inserida para conferir um pouco de dramaticidade à história. Como se vê trata-se de produção permeada por muitos clichês que sabotam o prazer do espectador.

Bons filmes são inesquecíveis e nos atraem mesmo se os vemos algumas vezes. Revi na TV o clássico “Shane” que entre nós recebeu o título de “Os brutos também amam”. Eu teria não mais que 12 anos de idade quando vi, pela primeira vez, “Shane” na tela do antigo cinema Art Palácio, em São Paulo. Creio já ter revisto o filme pelo menos umas cinco vezes. Pois a cada vez não me canso de rever o mesmo final no qual Shane - papel Alan Ladd - entra no “saloon” para o duelo com o pistoleiro Jack Wilson- vivido pelo excelente Jack Palance. O filme não abusa de clichês.