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A prisão do médico

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A detenção do médico Roger Abdelmassih dá o que pensar. Não é todo dia que se veem cenas de aprisionamento de pessoa tão renomada e que goza de enorme prestígio em sua profissão. As imagens daquele senhor, aparentemente acima de qualquer suspeita, sendo conduzido por policiais passa-nos a idéia de equívoco, de coisa fora do lugar. De fato, a presença física do médico em pleno noticiário policial parece deslocada, algo chocante transferindo-nos a impressão de que, em nome do bom senso, tudo acabará sendo explicado e voltará a ser como antes.

Entretanto, sobre o homem que foi levado de sua luxuosa clínica pelos policiais pesam acusações gravíssimas: mais de cinquenta mulheres o acusam de abuso sexual e existe uma inegável coincidência nos depoimentos delas quanto ao modo de agir dele. A tônica das palavras de cada uma delas é de profunda revolta, raiva, humilhação e, principalmente, sede de justiça. Os relatos referem-se a abusos cometidos justamente em momentos de torpor causados pela aplicação de medicamentos. São, pois, depoimentos sobre vítimas indefesas, completamente à mercê do homem que responsabilizam pelos abusos. Acusações terríveis, muitas delas guardadas por longo tempo dado o receio de descrédito.

O assunto apaixona pessoas que se perguntam sobre como é possível acontecer fato tão hediondo. Há quem se negue a acreditar. Pacientes do Dr. Roger, gratos a ele, o descrevem de forma elogiosa. É nessas circunstâncias que o critério de verdade deve prevalecer para que a justiça seja feita. O que é verdade nesse caso? Afinal, o que é a verdade? No seu Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano explica-nos, analisando o verbete verdade, que este possui cinco conceitos fundamentais. Um deles é o conceito de verdade como correspondência tal como foi formulado, entre outros, por Aristóteles. Uma das teses do filósofo grego sobre a verdade é a que a entende como o que ela é e não como pensamento ou o que se diz sobre ela. Assim, uma coisa não é branca porque se tome como verdade que ela tem essa cor; a afirmação é verdadeira porque de fato a coisa é branca.

São os fatos, as provas, portanto, que prevalecerão no caso do Dr. Roger Abdelmasssih. Só com elas se poderá chegar à verdade. Nesse sentido as investigações policiais prosseguem. A Justiça recusa o habeas corpus impetrado pelos advogados do médico.  O Conselho Regional de Medicina abre cinquenta processos contra o médico e suspende o seu direito de exercer a profissão.

O grande choque que nos causa tudo isso é provocado pela contradição entre fatores como a imagem de seriedade do médico, seus deveres éticos e a natureza das acusações feitas contra ele. Existe muito de tara e monstruosidade absolutamente inaceitáveis nas situações descritas pelas vítimas que, caso fiquem provadas, exigirão punição exemplar.

Finalmente, vale lembrar o juramento de Hipócrates feito por todos os médicos antes de iniciar o exercício da profissão. Em um de seus parágrafos lê-se:

Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.