repressão e censura na ditadura at Blog Ayrton Marcondes

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1969

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- Pegaram o Marighela.

Era o que se falava na manhã seguinte quando a notícia se espalhou. Anos mais tarde um conhecido me disse que pegaram Marighela quando quiseram porque sabiam o tempo todo por onde ele andava. Esse conhecido servira o exército na época e trabalhava junto a um coronel nas dependências do DOI-CODI. Teria, portanto, acesso a informações privilegiadas.

Nunca acreditei no relato do meu conhecido. Até porque ele pertenceria ao baixo escalão e dificilmente teria acesso a informações relevantes. O ano era 1969 e a repressão promovida pela ditadura terrível. Em São Paulo a turma do delegado Fleury fazia e acontecia. O Esquadrão da Morte não perdoava.

Somos pessoas diferentes em cada época da vida. Não sou capaz de recompor o rapazote que fui em 1969. Vivia em São Paulo, cursando o primeiro ano da faculdade. Lembro-me bem do dia em que passava, dentro de um ônibus, pelo Largo de São Francisco e, de repente, vi a praça entrar em guerra. Das Arcadas saíram estudantes portando cartazes de protesto. Entretanto, forças policiais estavam a postos para reprimir a manifestação. O confronto foi imediato. Estudantes viraram um carro ao qual atearam fogo. A polícia lançava bombas de efeito moral. Um estudante entrou no ônibus, gritando sobre liberdade. Houve um momento em que os passageiros se jogaram no chão pelo medo de serem atingidos. Mas, a confusão não demorou. Estrondos por toda parte e os estudantes se recolheram sob a proteção da faculdade. Só então o trânsito fluiu.

Era um tempo de silêncios. O melhor era não se falar em política em lugar público. Em outubro Médici assumiu a presidência iniciando-se período turvo da história nacional no qual a repressão e a censura atingiram graus elevados. No início de novembro Marighela foi morto em São Paulo por agentes do DOPS.

Até hoje persistem dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Marighela.  Passados 47 anos do desparecimento do líder da ALN o Ministério Público Federal decide investigar a morte do guerrilheiro. Consta que foi atraído a um encontro com dois frades que o esperavam num carro. Não sabia ele que os frades na verdade já estavam presos e seriam usados como isca. Ao se aproximar do carro, desarmado, Marighela foi morto a tiros. É a versão corrente.