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Envelhecendo

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Quando jovem convivemos durante anos com outros jovens dos quais ficamos amigos. Trata-se do período de estudo no qual se frequentam escolas de ensino fundamental, médio e universidade. Lembro-me com emoção da cerimônia de formatura do antigo ginásio. Tínhamos, na ocasião, por volta de 14 anos de idade e amávamo-nos com a ternura que só a primeira juventude pode proporcionar.

Terminado esse primeiro ciclo de estudos cada um seguiu seu caminho e a muitos dos que foram meus colegas nunca mais encontrei. A mesma cosia sucedeu no curso superior de longa duração e tantas amizades. Terminado curso seguiu-se a diáspora, cada um trilhando o seu caminho em função das opções profissionais que surgiram ao longo dos anos.

Mas, eis que de repente o tempo passou velozmente, na verdade décadas se sobrepuseram sem que nos déssemos conta disso. Até que um dia, quarenta, cinquenta anos depois, alguém saído do passado tem a ideia de reunir os velhos amigos e passa a procurá-los. Assim, lentamente, o grupo se recompõe. Antigas lembranças voltam às memórias e, pela internet, os velhos colegas passam a se comunicar, seguindo o mesmo padrão de conversas do passado. Os papos carinhosos evoluem até que, finalmente, o grupo decide sobre a urgência de um encontro a ser marcado para um fim de semana em lugar escolhido em comum acordo.

A essa altura das tratativas começam a surgir informações sobre famílias, número de netos, etc. Depois, aparecem as fotografias. Ao vê-las o espanto: mas, esse fulano, esse senhor encanecido é mesmo aquele tão dileto amigo, o jovem com quem em tantas ocasiões me reuni para intermináveis conversas?

A questão é que nas memórias ficaram retidas as imagens dos jovens que fomos. De repente surgem diante de nossos olhos retratos tomados quarenta anos depois, que não batem com as imagens de antes.

É quando a velhice que vivemos a driblar se abate sobre nós com força. Envelhecemos. No meu caso aconteceu de levantar-me da cadeira e ir ao espelho para ver o meu rosto. Obviamente, não pude encontrar a face que por momentos me voltara à memória. Lentamente, dia após dia, eu me transformara nesse outro que sou hoje, talvez incapaz de rever os antigos amigos e reatar conversas nunca terminadas.

Cícero escreveu o livro “Saber Envelhecer” no qual destaca a necessidade de sabedoria para dialogar com a velhice. Estabelece o grande tribuno romano o paralelo entre o que se perde com o passar dos anos e o que se ganha com a velhice. A perda da vitalidade física em muito é compensada pela conquista de atributos da alma. Nascido 100 anos antes de Cristo Cícero distinguiu-se como um linguista, tradutor e filósofo. Foi também notável orador e advogado de sucesso. “Saber Envelhecer” é uma de suas obras que chegou até nós e pode ser encontrada nas livrarias. Vale a pena ser lida.