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O descrédito do saber

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Os antibióticos são eficientes para matar bactérias e vírus; civilizações antigas foram visitadas por ETs; e a astrologia é uma ciência. Essas e outras afirmações errôneas partiram de alunos de graduação do EUA. Para que se tenha ideia 65% de 10000 entrevistados acreditam que ETs tenham ajudado na construção das pirâmides do Egito.

Outro dia um amigo, professor de curso superior de História, reclamava que seus alunos nunca tinham ouvido falar de Getúlio Vargas. Queixas sobre falta de conhecimento são gerais entre professores. Redações de alunos cursando diferentes níveis escolares variam desde o quase analfabetismo de alguns à ausência de lógica das colocações de outros. Não se trata apenas de falta de ideias ou dificuldades de expressão: na base do problema está a ausência de conhecimentos. Existem, é verdade, grandes e honrosas exceções.

Há alguns anos vigorava entre os jovens certo compromisso com o saber. Era no mínimo desagradável conversar com alguém e não participar de um assunto proposto durante a conversação. Falava-se muito em Darwin e Marx, por exemplo. Obviamente não se conheciam em profundidade as teorias propostas por esses e outros pensadores. Mas, tinha-se algum conhecimento sobre elas, o suficiente para, como se dizia então, não fazer feio.

Em família sempre me diziam que era preciso ler para não dar o vexame de ficar calado durante um papo com amigos, só por falta de conhecimentos. Não sei se isso terá influenciado alguma coisa em minhas escolhas e vida de leitor. Em todo caso, na época não dispúnhamos de tantos atrativos como internet, TV Digital, celulares e toda a parafernália eletrônica que permite contatos instantâneos entre pessoas. Daí que se lia de tudo, desde gibis, romances exageradamente românticos, às deliciosas perversões de Carlos Zéfiro. Era um caminho que atraia para a leitura posterior de obras mais consistentes. Começava-se com os quadrinhos do Capitão Marvel, passava-se às coletâneas de contos policiais do Ellery Queen e chegava-se a Dostoievski. Era, sim, um ótimo caminho.

Não sei bem o que dizer sobre isso. Quem dá aulas ou faz palestras assusta-se com o grau de desinteresse da maioria dos presentes. O mundo é rápido demais, talvez não valha a pena pensar, talvez inconscientemente isso se passe na cabeça dos jovens. O prazer da conversação foi substituído por uma linguagem pobre, quase em código, na qual modismos e expressões sincréticas substituem frases inteiras. O intimismo está afetado pelos watts das baladas ensurdecedoras onde o ponto de contato é a linguagem dos corpos que se entendem às maravilhas.

Mas, que não haja desânimo. O homem é uma criação surpreendente. Ele é capaz de dar voltas em torno de si mesmo e renovar-se. Os modismos e apelos passam, já o homem não. De repente é possível o retorno aos trilhos, a cultura recupera seu valor intrínseco e as pessoas tornam a discutir temas de bons livros, por que não?

Repito: o homem é uma criação surpreendente.