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Raindrops keep falling on my head

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Éramos cinco.  Chegáramos à casa do Baixinho por volta de oito da noite. A prova de Fisiologia seria na manhã seguinte e a matéria todos os capítulos relacionados ao sistema nervoso do livro do Guyton. Uma enormidade de conceitos e detalhes que deveríamos absorver até a madrugada.

Foi o que aconteceu. Cada um de nós lia um capítulo inteiro com muitas paradas para discussão de aspectos que não nos pareciam claros. Estudávamos sem espaço para distrações ou piadas. A missão era difícil, a coisa séria.

Lembro-me de que, no meio da madrugada, bateu-me o sono. Um dos amigos chamou-me a atenção dizendo: esse cara tá dormindo. Abri os olhos e protestei. Seguiu-se o desafio: então sobre o que estávamos falando? Repeti quase palavra por palavra o conteúdo da matéria. Admiraram-se da minha memória. Eu tinha boa memória.

Pelas cinco da manhã estávamos cansados. O pai do Baixinho havia se levantado e, pouco depois, reapareceu trazendo pão quentinho, vindo da padaria. Tomamos café, voltamos ao texto. Mas, não dava mais. Então o baixinho ligou o rádio. Subitamente, como se vinda de outro mundo, começaram a soar os acordes de um grande sucesso da época: Raindrops keep falling on my head.

Foi automático. Quatro de nós deram-se os braços e começamos a dançar como se estivéssemos num palco, apresentando-nos. O Gonzaga não dançou. Permaneceu sentado, olhando-nos, rindo daquilo, talvez extasiado com nossa juventude.

Hoje de manhã liguei o rádio do carro e comecei a ouvir Raindrops keep falling on my head. Quase 40 anos depois revi com nitidez a cena de nós quatro, cansados, dançando. Éramos jovens e não conhecíamos nada sobre nosso futuro. Mais tarde formam-nos na mesma faculdade e depois nos afastamos. Não sei como terá siso a vida de meus grandes amigos a quem deixei ao logo da estrada. O Gonzaga, aquele que ria nos vendo dançando ao final da louca madruga, o Gonzaga morreu. Nós, os demais, continuamos por aí. Com gotas de lembranças caindo sobre as nossas cabeças. Saudosas.