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Resistindo às intempéries

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Uma velha senhora, com mais de 100 anos de idade, dotada de invejável poder de resistência. Sólida, altiva, sempre em pé, ela avança contra rajadas de ventos cortantes, tsunamis ou o que vier ao seu encontro. Às vezes chora, mas baixinho: não quer que a vejam temerosa ou simplesmente chocada pelo modo como a tratam, pelo desrespeito a ela que tanto dá de si aos outros.

Essa senhora vetusta já viveu bastante para conhecer os homens e sua incrível capacidade de torcer tudo em acordo com os seus interesses. Mais que centenária ela conviveu com os mais variados tipos de gente e, quando se desesperou, pode conformar-se por saber que o tempo passa e com ele as pessoas que, iludidas com o poder, terminam por desaparecer. Talvez por isso ela goste muito de visitar palácios e museus para olhar faces às quais conheceu de perto e que, agora, não passam de um retrato esquecido dentro de uma moldura. A historia dos homens que tiveram alguma importância termina pendurada em paredes, esse o pensamento que mais conforta à velha senhora quando se defronta com a imagem de alguém que a desprezou ou falsamente agiu em nome dela.

Quem é a velha senhora, de quem estamos falando, afinal? Ela é conhecida por aí como República. Velha e altaneira, respeitável ao limite, a República talvez esteja cansada de singrar em mares cobertos de lama. Quer ela águas límpidas e honestas, muito sol e verde, alegria e acolhimento aos que dela dependem. Entretanto, isso parece impossível no grande país de glórias sempre inconclusas no qual o Estado tem sido meio útil para realizações pessoais, quando não mesquinhas.

Escrevo para avisar que a República do grande país dos brasileiros está doente. Tentei visitá-la hoje de manhã, mas ela não pode me receber. A equipe médica que cuida da doente publicou um boletim informando que o mal é grave porque afeta o coração, naquela parte onde se instala o gabinete da Casa Civil.  Atos indevidos, favorecimentos, tramoias e corrupção, fizeram mal à corrente sanguínea da doente, ela que já vinha abalada por problemas no setor de Receita onde ocorreram quebras de sigilo etc.

Mas, que não nos desesperemos. O boletim médico lembra-nos que a velha senhora é forte e resistirá, como já o fez muitas vezes ao longo de sua vida centenária. A favor dela conta o fato de ser maior que os vírus que a contaminam, daí a cura ser nada mais que uma questão de tempo. Ressaltam, ainda, os médicos que conta a favor da velha senhora o dom de ser muito paciente: ela sabe que, não muito tempo adiante, alguns dos que hoje não a respeitam como deveriam nada mais serão que rostos dentro de molduras. Sabe mais: conhece que a maioria nem ao mesmo será enquadrada, a eles sendo reservado o esquecimento, condição vital para exemplo às novas gerações.