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Fotos de guerra

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Guerras são guerras daí delas tudo se poder esperar. O que vale nas guerras é o uso da força e a morte dos adversários torna-se banalidade desejada. O que importa é vencer, isso à custa de toda brutalidade necessária.

As guerras afetam dramaticamente os homens que delas participam. Lançados num contexto onde deixam de valer as regras de civilidade
são comuns os traumas e resquícios decorrentes da ação. Viver perigosamente, correr riscos e matar exigem de muitas pessoas mais do que na verdade são capazes. Decorrem daí atos que, em situações de paz, nos surgem como inexplicáveis e desafiam a nossa compreensão.

É sabido que a rotina de violência pode afetar a sensibilidade de homens que continuamente se envolvem em situações de perigo nas quais suas vidas são colocadas em jogo. Há situações em que a bestialidade encobre o verniz civilizatório de muitos soldados que passam a agir de modo inesperado. ´Trata-se da perda de noção sobre o que é certo ou errado que se traduz em ações tantas vezes desprezíveis observadas nas guerras. Em tais condições deixam de importar ao soldado a natureza do inimigo, seja ele militar ou apenas civil, o fato de ser homem, mulher ou, ainda, apenas uma criança. A história
de todas as guerras é, infelizmente, farta em ocorrências terríveis contra inocentes.

As considerações anteriores são feitas em função da divulgação de novas fotos sobre ações de soldados norte-americanos no Afeganistão. A tropa de ocupação norte-americana está no país há alguns anos e o governo do presidente Obama tem se pronunciado no sentido de retorno dos rapazes para casa. Deixando-se de lado as razões da ocupação do Afeganistão e mesmo as terríveis consequências da guerra ali travada importa-nos o horror
explicitado pelas fotos publicadas ontem num jornal dos EUA. Numa delas soldados foram fotografados segurando as pernas - desmembradas do restante do corpo - de um soldado afegão. A metade do corpo surge como troféu conquistado pelas forças de ocupação. Noutra um soldado norte-americano tem, sobre o seu ombro, a mão de um afegão morto.

Segundo o jornal essas as duas fotos fazem parte de um conjunto de outras dezesseis não publicadas por serem horríveis demais. Essas fotos somam-se a ocorrências recentes que têm despertado a ira dos afegãos tais como a morte recente de vários civis chacinados por um soldado do exército norte-americanos.

O governo dos EUA vem a público lamentar as atitudes de seus soldados, desculpa-se com o Afeganistão e pede ao jornal que não publique as demais fotos porque isso colocaria em perigo a vida de seus homens naquele país. Mas, nada disso logra reduzir a sensação de horror provocada pelas fotografias. Está nelas, impresso, o avanço de homens que se arriscam a romper as barreiras de tudo o que acreditamos e no mundo em que confiamos. Trata-se da barbárie calcada no desgoverno de mentes para as quais vigora o sentimento de que tudo pode ser feito e sem culpa. Mentes forjadas pela  guerra.

A nós resta apenas o registro do fato e a tentativa de olvidar o horror proporcionado pela visão das fotos. Trata-se da necessidade de fingir que afinal tudo não passa de ficção, talvez a própria vida nada mais seja que uma grande ficção.