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Pobre língua portuguesa

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Quem trabalha em escolas conhece de perto o descaso das novas gerações em relação à língua portuguesa. O fato é que as novas gerações são, cada vez mais, proprietárias de vocabulário restrito e construções gramaticais erradas. Isso se percebe na fala e, com muito maior intensidade, em textos escritos. Redigir qualquer coisa é um problema! Nem sempre existe falta de imaginação: simplesmente as pessoas não conseguem expressar com coerência aquilo que querem dizer.

 Os professores de português conhecem o assunto em profundidade daí que o que se está a dizer não é novidade para ninguém. Por trás da insuficiência geral, a falta de leitura tão importante para o enriquecimento do vocabulário, ordenação de ideias, aquisição de cultura etc.

É pena. Talvez hoje se encontrem cada vez menor número de pessoas que tenham amor às palavras e não as tenham como simples serviçais a seu dispor para comunicação. Não falo da oratória empolada, dos discursos políticos, mas do sabor que o som de certas palavras tem, de construções gramaticais não só corretas como eficientes em termos de expressão e comunicação.

Lembrei-me desse assunto ao topar com um velho livro, o “Pequeno Dicionário de Assuntos Pouco Vulgares”, de autoria de Alfredo de Castro Silveira. Publicado em 1960, por J. Ozon Editor, trata-se de ‘”excertos e garimpagens nos domínios da literatura abrangendo todos os ramos do saber humano”, conforme é explicitado pelo autor.

Castro da Silveira reuniu inúmeras palavras, algumas de muito pouco uso, acompanhadas de seus significados. É assim que aprendemos que o termo certo para identificar algo danoso é “estropício” e não “estrupício” como se diz, palavra essa que tem o significado de “algazarra”. Isso sem falar na diferença de “bacamarte”, que é uma arma de cano curto e “bracamarte”, um tipo de espada curta, ou espadagão, que se brandia com as duas mãos. E inúmeras curiosidades como essa de que “camelô” também pode ser chamado de “bufarinheiro” e “contrabandista” de “entrelopo”.

Os exemplos acima parecerão supérfluos, detalhes para estudiosos ou quem tem paixão pela língua. Que seja. Ainda assim, permanece a necessidade de interação das pessoas com o básico do léxico, com um número mínimo de palavras que permitam a elas expressar-se de modo suficiente a defender seus interesses e exercer as suas cidadanias.

Infelizmente, na prática não assistimos a exemplos dignificantes, bastando ver o verdadeiro show de horrores da atual campanha política em exibição nos horários gratuitos pela televisão. Outro dia vi o Tiririca pedindo aos eleitores para votar no palhaço. Não sei se ele mesmo disse, mas corre que o mote da campanha dele é “Vote no Tiririca, pior não fica”.

Sei lá o que acrescentar a isso.