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Michael Jackson, um ano depois

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michael-jacksonAs circunstâncias da morte de Michael Jackson talvez nunca venham a ser esclarecidas. O segredo sobre os últimos momentos do pop star pertence a poucas pessoas que o acompanharam, destacando-se o médico Conrad Murray, formalmente acusado de homicídio culposo.

Um ano não é tempo suficiente para estimar com certeza a sobrevida de Jackson no mundo pop. Entretanto, pelo que se tem observado, o cantor continua mais que vivo na mídia e faturando alto. Por ocasião do primeiro aniversário de sua morte os seus passos mágicos de dança são exibidos em vários canais de televisão e suas músicas são tocadas no rádio. Como se suspeitava a morte física de Michael parece não ter influído na permanência do pop star. Existia, portanto, uma separação tênue entre o ídolo e o homem, de tal modo que não seria tão absurdo esperar-se que um dia desses ele se levantasse de sua tumba e voltasse a dançar.

Será talvez exagerado afirmar que o fenômeno da sobrevida da obra a quem a produziu seja condição intrínseca a uns poucos mortais que se destacaram pela grandiosidade das suas produções. O fato é que aqueles que muito se destacam tornam-se inseparáveis da obra que produziram daí sobreviverem através dela. Trata-se de uma forma de imortalidade que prescinde da presença física do artista. Quando se observa, por exemplo, um quadro de Andy Warhow é quase impossível dissociá-lo do artista que o produziu: o rosto de Warhow parece sempre estar por detrás da tela, olhando-nos, medindo as nossas reações à sua arte.

Talvez tenha citado justamente Warhow porque o mundo pop possua encanto e ligação mais direta com as nossas emoções. A desconstrução obstinada de modos de ser que dialoga com a busca da perfeição, gerando mensagens contraditórias e destoantes, empresta-nos permanente sensação de rebelião e novidade. É assim que se realiza o nosso ajuste de contas com o cotidiano sufocante em que vivemos. A arte pode ser entendida de vários modos, talvez o mais importante deles seja o de transporte do espírito da realidade objetiva a um patamar que nos faça sentir superiores à nossa própria condição.

Michael Jackson foi um desses seres enviados para fazer-nos suportar o grave peso da mesmice dos dias. Ser contraditório, indefinido, passeou alegremente entre os estereótipos de homem e mulher, de ser real e imaginário. É justamente essa indefinição que garante a sua sobrevida porque Michael terá sido um desses poucos seres que afrontaram a barreira da morte, fazendo dela simples passaporte para continuar mais vivo do que nunca.