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No fim

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Pessoas conhecidas agonizam. Uma delas está na fase dos cuidados paliativos. Com metáteses torácicas e abdominais nada mais resta a fazer senão aliviar o sofrimento.

Impossível não lembrar dessa mulher que agoniza ao tempo de sua mocidade. Inteligente, interessada, estudiosa, a melhor aluna da turma. Educada, sempre tinha um sorriso nos lábios.

Depois da formatura afastamo-nos. Só a revi há cerca de cinco anos em reunião agendada pelos antigos companheiros. Envelhecida, matinha a elegância e urbanidade. Tratou-me com lhaneza e conversamos sobre coisas passadas ao tempo da escola.

Difícil imaginá-la agora em seu leito de morte. A essa situação foi levada pelo câncer, sempre o maldito câncer. Doença terrível na qual, infelizmente, muitos pacientes são levados a óbito. Destaquem-se os muitos avanços na terapia do câncer e a dedicação de profissionais que cuidam de pacientes cancerosos.

Acompanhar os dias finais de pessoas para quem já inexistem esperanças é doloroso. Difícil aceitar a situação daqueles a quem amamos quando reduzidos a situação terminal. Mais difícil, ainda, assistir ao sofrimento que só a morte pode encerrar.

Discute-se muito a eutanásia. No Brasil a eutanásia é crime previsto em lei como assassinato. Existe atenuante no caso de vir a ser realizada a pedido da vítima. Nesse caso há redução da pena para período de 3 a 6 anos.

Nossa formação é sempre em favor da vida, jamais em prol da morte. Mas, há situações que nos fazem pensar. Se por um lado não queremos nos desligar de entes queridos, por outro há que se considerar a inexistência de reversão de um quadro de muito sofrimento. É claro que a realização da eutanásia implica em vários aspectos, mas para quem está ao lado de pessoas para quem nada mais há a fazer a situação se resume na consideração sobre a duração do período de sofrimento.

Minha colega agoniza. É possível que de hora para outra chegue a notícia de seu passamento. Que vá em paz. Sua vida será sempre exemplo para os que a conheceram e conviveram com ela.