participação dos EUA no golpe de 64 at Blog Ayrton Marcondes

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Acontecimento inesquecível

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No dia 13 de março de 1964 eu era um rapaz de 17 anos que tentava entender o Brasil. Getúlio Vargas suicidara-se em 1954, Juscelino construíra Brasília e Jânio renunciara, inexplicavelmente, em 1961. João Goulart - Jango - o vice de Jânio assumira o poder e o país enfrentava grave crise com endividamento externo, inflação alta e necessidade de reformas urgentes. Era a época do mundo bipolarizado com os enfrentamentos entre os EUA e a União Soviética traduzidos na chamada Guerra Fria.

Os países sul-americanos alinhavam-se ao bloco dos EUA que de modo algum permitiam qualquer desvio de orientação que não seguisse suas diretrizes. A dependência econômica fazia do país refém da política da grande potência do norte que tinha sempre os olhos abertos para qualquer movimento comunista ou socialista dentro do seu bloco.

Foi dentro dessas perspectivas que Jango realizou o célebre comício do dia 13 que tantas repercussões teria sobre a história do país. Ao comício, realizado no Rio, compareceram cerca de 200 mil pessoas boa parte delas portando faixas com variados dizeres. Naquela noite, no Comício da Central do Brasil, Jango defenderia as reformas de base de seu governo.

Lembro-me da figura de Jango no momento em que começou a falar. Antes dele discursara o jovem José Serra, então presidente da UNE, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, e o deputado Leonel Brizola. Jango tinha ao seu lado direito a esposa e primeira-dama Maria Thereza Goulart e nas suas pausas ouvia o que lhe dizia Darcy Ribeiro.

Horas antes do comício Jango assinara dois decretos, um deles autorizando a desapropriação de áreas ao longo das ferrovias, das rodovias, das zonas de irrigação e dos açudes – e outro encampando as refinarias particulares de petróleo. A essas medidas, que explicou em seu discurso, Jango anunciou o pacote de reformas que enviaria ao Congresso tais como a reformas agrária, eleitoral e a reforma universitária.

O Comício da Central do Brasil funcionou como estopim para a reação militar que resultaria no golpe realizado no dia 31 do mesmo mês. Decorridos 50 anos desses episódios marcantes divulga-se a participação ativa do governo dos EUA no golpe em conluio com altas patentes do Exército brasileiro.

No dia seguinte ao comício não se falava em outra coisa. Lembro-me de ter ouvido em casa, dos parentes mais velhos, que Jango estava no caminho certo porque as reformas que propunha eram necessárias. Mas, o presidente não chegou a realizá-las apeado que foi do poder poucos dias depois do famoso e inesquecível comício.