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WikiLeaks

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Meu caro amigo há coisas sobre as quais fica difícil realizar um juízo perfeito. Em primeiro lugar é bom lembrar que caras como eu e você pensamos – só pensamos – que as nossas opiniões são bem formadas e isentas de contaminação alheia. É bom achar isso, raciocinar assim, dá-nos uma imensa sensação de liberdade, individualidade e poder de escolha. Acontece, porém, que gente como nós vive de informações e opiniões terceirizadas. Você bem sabe que nós não temos acesso a fontes primárias de informação, não presenciamos fatos significantes, não estamos presentes em momentos decisórios e mesmo a imagem que fazemos de pessoas públicas é acompanhada de traços de opiniões de outras pessoas. Enfim, a nossa opinião é, quase sempre, “mediada pela mídia”.

Sei muito bem que refletir sobre isso é muito desagradável. Aliás, existe uma vigorosa contrapartida a tudo o que está sendo dito: bem, se não fosse assim, como seria? Pois é, não tem outro jeito, para isso existem jornalistas, comentaristas e toda sorte de gente cuja atividade consiste em mostrar o que acontece, sempre sob determinada óptica que muitas vezes nem é a deles mesmos, mas das empresas em que trabalham. Só para ficar num exemplo, veja aí o atual empenho dos meios de comunicação em mostrar a guerra contra o tráfico no Rio, cobertura quase toda isenta de críticas, exceto poucas vozes que agora começam falar em excessos e corrupção como a facilitação de fugas de bandidos mediante pagamento. Pelo amor de Deus, não estamos contra a invasão dos morros, na verdade estamos eufóricos com o fato de finalmente o Estado ter encarado o problema do modo como está fazendo agora. Aliás, por que não agiram assim antes?

Ditas essas coisas - e outras de que nem é preciso falar - pergunto: que pensar sobre esse tal de WikiLeaks? De repente, os carinhas do WikiLeaks, dissidentes de várias nacionalidades, publicam pilhas de documentos sigilosos, abrindo o jogo sobre negociações, acordos, fofocas e tudo o mais que rola entre os representantes políticos de vários países. Eles abrem a Caixa de Pandora sem a menor cerimônia, doa a quem doer. Imediatamente surgem protestos, países em guerra ou em disputa por qualquer coisa protestam porque certos documentos colocam em risco a segurança de exércitos e por aí vai. Quanto a nós, que impressão nos fica sobre assunto tão controverso?

Deixando de lado o jogo que envolve a liberdade de expressão e outros valores tão caros à civilização – em geral não praticados, mas tão importantes – o fato é que, para o bem ou para o mal, trata-se de uma rara ocasião em que a informação tende a chegar até nós, pobres mortais contribuintes do Estado, sem mediação. Ficamos sabendo, por exemplo, que o Ministro da Defesa do Brasil revelou aos EUA que Evo Morales tem um tumor na cabeça. Aqui no nosso mundinho isso mais parece fofoca, mas os grandalhões terão as razões deles para valorizar informação dessa ordem, quem sabe prevendo como influir na vida dos bolivianos, caso a doença do presidente se agrave. Também somos informados de que os EUA criticam duramente a estratégia de defesa do Brasil: para os irmãos do norte o submarino nuclear da Marinha brasileira não passa de um elefante branco. Coisas como essas talvez não sejam tão importantes, mas estão documentadas. São, portanto, os documentos que estão a falar conosco e não pessoas que expressam suas opiniões sobre o conteúdo deles.

Não sei o que você acha disso.  O WikiLeaks promete a divulgação dos quase 250 mil documentos sigilosos pirateados por um jovem soldado nos arquivos do governo norte-americano. Tem gente por aí morrendo de medo de que certas inconveniências sejam reveladas. Segredos de Estado como reservas de urânio, acordos para invasão de países etc têm vindo a público, mas o WikiLeaks promete muito, muito mais.

O império norte-americano está sendo posto a nu pelo WikiLeaks. Das consequências disso, para o bem ou para o mal, só saberemos após tudo ser divulgado.