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Pandemia e idosos

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De repente o mundo começa a parar. O pânico se espalha. Um novo vírus ameaça a humanidade e os homens se desesperam ante a iminência de serem infectados. Na Itália tudo está fechado. Aqui os casos avançam, mas ainda não se justificam grandes paralizações.

Para quem tem mais de sessenta e cinco anos o perigo é maior. A capacidade de resistência do organismo dos idosos pode não fazer frente ao ataque viral. Daí que para quem está nesta faixa as coisas não se pareçam tão tranquilas.

Tenho a impressão de que por mais que alguém se prepare durante toda a sua vida para a velhice ela sempre chegará como pacote fechado e duro de engolir. Não se trata apenas das marcas do envelhecimento sobre o aspecto externo. Há muito além disso. Em alguns casos chega-se à dificuldade em aceitar as limitações da nova condição. O corpo que já não responde facilmente a movimentes antes executados com tanta facilidade é apenas um dos tormentos que se agravam paulatinamente. Tormento ao qual se acrescentam as necessidades de doses diárias de certos medicamentos - ingerem-se pelo menos alguns comprimidos por dia quando não muitos em casos de doenças estabelecidas. E inúmeras coisas mais.

Mas, a velhice também traz certa mudança no modo de ver as coisas. Verdade que muitos chegam a ela enrijecidos, senão revoltados. Entretanto, um novo olhar não é incomum. Um pouco mais de paciência diante dos descaminhos das gentes e do mundo pode surgir. Há certa compreensão de que erros fazem parte da rotina dos seres humanos e devem, na medida do possível, serem tolerados.

Um amigo idoso me diz que aguarda pelo coronavírus sem grande preocupação, pelo menos por enquanto. Lembra ele que, afinal, o número de casos no país não é grande, mormente se lembrarmos que aqui vivem cerca de 240 milhões de pessoas. Afirma que a gripe espanhola de 1918 matou 100 milhões de pessoas no mundo, 35 mil delas no Brasil. Estamos muito longe disso. Completa, repetindo o que dizem as autoridades médicas: nas próximas três semanas saberemos se a pandemia de fato atingirá muita gente.

Digo ao amigo que, entretanto, alguns especialistas estão esperando pelo pior. O que me devolve aos anos 70 do século passado. Naquela ocasião uma epidemia de casos de cólera atingira a Itália. Temia-se a chegada do Vibrio colerae, bactéria causadora da doença, ao país. Em reunião, a portas fechadas, um corpo clínico de infectologistas estimava perto de 1 milhão de mortes caso a doença atingisse a cidade de São Paulo. Tal número baseava-se na precariedade das condições sanitárias da periferia da cidade, desassistida de sistemas de água e esgoto. Recorde-se que a cólera é adquirida por ingestão de alimentos e água contaminada pelas fezes ou vômitos de pessoas doentes. Mas, felizmente, a temida bactéria não apareceu por aqui e não houve a epidemia.

Não é o caso do coronavírus que já desembarcou no país. O que se pode fazer é seguir à risca as orientações de visam impedir a propagação do vírus. E torcer para que a doença não se espalhe.