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A paixão das tardes de domingo

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Não adianta, domingo é dia fora do catálogo, o mais imprevisível da semana porque nele tudo pode acontecer. Dia de folga, sem horários fixos, sem obrigações a cumprir, momento de ficar com a família, sair com os filhos, enfim. Começa que domingo não tem despertador e você pode ficar mais tempo na cama, sem aquela urgência de vestir-se depressa, engolir o café da manhã do jeito que dá e sair à rua com os olhos presos no relógio, xingando o trânsito que não anda porque vai ter bronca se chegar atrasado. Domingo não tem nada disso, não tem mesmo. Você pode se levantar sem pressa, tomar o café sossegado, ainda de pijama e tem até tempo para bolar uma desculpa para dar à sua mulher e escapar do almoço na casa da sua sogra, afinal tudo, tudo mesmo, menos aturar os seus cunhados.

Tirando a necessidade de dar umas enganadas e até inventar alguma dor para fugir a certas chatices, pode-se dizer que o domingo é o melhor dia da semana. Você até dá um jeito de esquecer os problemas, o negativo do cheque especial, as contas a pagar, as exigências do seu chefe e os tais compromissos inadiáveis aos quais terá que comparecer a partir de segunda-feira. Do que se conclui que o domingo é um bom dia mesmo, aquele do descanso com o qual você sonha durante a semana porque, afinal, os seus nervos precisam de descanso, isso sem falar nos músculos que necessitam tanto de relaxamento.

O diabo é que nesse mundo nada é perfeito, nem mesmo os domingos. Acontece que as coisas vão bem até o meio da tarde, a sua mulher concordou foi almoçar com os filhos na mãe dela, você ficou sozinho em casa e pode curtir o silêncio nesse espaço que agora se tornou inteirinho seu.

Mas, o que pode atrapalhar esses momentos de sossego absoluto? Bem, é que exatamente às quatro horas da tarde o seu time entra em campo para um jogo importante. Pronto, vai-se embora a calma, a paciência, agora é guerra porque lá estão os dois times perfilados enquanto toca o hino. Na verdade o dia de folga termina justamente quando o juiz apita e o jogo começa. Agora você está tenso, olhos pregados na tela da televisão e de repente vai ao desespero porque o zagueiro do time do seu coração, com dois minutos de jogo, comete um pênalti. Você reza para que o cobrador erre, para que o goleiro do seu time defenda, mas não adianta, é gol, pronto, a desgraça começou. E tem os gritos de um maldito vizinho que comemora, se você pudesse iria lá pra dar uma porrada bem no meio da cara desse desgraçado.

O resto você já sabe de cor e salteado. Serão mias 85 minutos de sofrimento até o fim do jogo com a vitória do time adversário. Pouco antes de acabar a sua mulher chega e, quando passa na sala, pergunta quanto está o jogo. Você não responde, a sua vontade é mandar todo mundo para o inferno, a noite de domingo vai ser toda de emburramento e poucas palavras, você jura que não vai mais assistir aos jogos do seu time, nada de torcer e sofrer tanto por uma bobagem de caras correndo atrás de uma bola. A sua bronca é tanta que não vê a hora de chegar a segunda-feira, este sim o melhor dia da semana.

A tristeza com o seu time vai durar uns dois dias, depois você acaba lendo no noticiário que o técnico vai mudar as coisas e daqui para frente serão vitórias. Na quinta-feira você está recuperado, confiando na sua grande paixão que é o seu time, esperando o descanso do domingo, dia de botar os nervos em ordem, relaxar os músculos, dar um tempo nessa correria toda que é a vida tão repetitiva.