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A excomunhão

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Nos idos anos 60 do século passado pertenci a uma congregação católica a mando de minha mãe. Sai de opa em procissões e participei de reuniões na igreja após a missa das 10 horas aos domingos. Os congregados tinham um chefe que cuidava da congregação e falava aos companheiros durante as reuniões. Às vezes o vigário da paróquia aparecia nas reuniões, sempre em rápidas passagens que outro motivo não tinham que o de manter os congregados ligados à igreja.

Não sei se por ordem do vigário ou exigência da própria igreja eram os congregados obrigados a obedecer a algumas regras. Eram frequentes, por exemplo, a participação dos congregados em retiros espirituais em geral organizados em épocas nas quais os convites ao pecado eram maiores. Esse era o caso do carnaval, festa pagã da qual de modo algum um congregado poderia participar. Aliás, os congregados sabiam muito bem que ir a um baile de carnaval representaria a expulsão da congregação.

No primeiro ano em que fiz parte da congregação fui convidado a participar de um retiro espiritual que ocorreria justamente durante o período de carnaval. Tinha eu na época pouco mais de 14 anos e andava muito interessado numa colega de escola da mesma idade que a minha. Por essa razão aleguei não poder participar do retiro embora soubesse que de modo algum poderia frequentar os bailes de carnaval. Foi assim que durante três noites de carnaval fui até o clube onde se deram os bailes, mas não entrei. Sabia que a coleguinha de quem gostava estava lá dentro, sambando, mas que fazer se estava impedido de participar?

Entretanto, na noite de terça-feira de carnaval aconteceu da minha colega sair à rua e me arrastar para dentro do salão de baile. Obviamente, não ofereci resistência de modo que minutos depois lá estava eu, pulando com ela, feliz da vida, esquecido de meu compromisso com a congregação.

Terminado o carnaval disseram-me que eu seria não só expulso da congregação como excomungado da igreja. Obviamente, tratava-se de um exagero, mas aos 14 anos de idade aconteceu-me acreditar e temer tão grande punição. No fim fui desligado da congregação, expulso para vergonha de minha mãe. Mas ficou-me na cabeça a grandiosidade do que representaria a excomunhão, pois, com ela, estariam fechadas para mim as portas da salvação. Pelo menos foi assim que entendi a situação naquela época.

Lembrei-me dessa história hoje ao ler que um padre de Bauru foi excomungado por professar ideias contrárias às preconizadas pela religião católica. Consta que o padre afirmou ser possível o amor entre pessoas do mesmo sexo fato que de modo algum a igreja católica admite dada a condenação da mesma igreja ao casamento entre gays. O padre foi instado a tornar atrás em suas declarações, mas negou-se dizendo que ainda bem que hoje em dia não mais existem as fogueiras para queimar os dissidentes.

O padre excomungado era benquisto pelos fiéis de sua paróquia. Celebrou uma missa de despedida à qual compareceram muitos fieis, lotando a igreja.

Mais cedo ou mais tarde a igreja terá que se definir em relação a certas modernidades as quais simplesmente não têm volta. Trata-se de um fio de navalha com muito corte, difícil de ser evitado num momento em que a igreja católica perde muitos fiéis para as suas concorrentes evangélicas.