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Pior que tá não fica

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Aí vai o Tiririca fazer o teste para provar que não é analfabeto. O caso tem despertado opiniões divergentes. O presidente da República veio a público para dizer, entre outras, que se trata de um desrespeito a quase 1,5 milhão de eleitores que votaram no candidato.

Nos últimos dias têm se acirrado comentários sobre o preconceito contra nordestinos. Uma estudante de direito convidou, via Twitter, as pessoas a fazerem um favor a São Paulo eliminando nordestinos por afogamento. A moça estava revoltada contra o bom povo do nordeste, brasileiros como os outros e, portanto, com direitos iguais, por terem votado maciçamente em Dilma Roussef e derrotado José Serra. A par das condenações a esse ato da estudante houve quem se manifestasse, na imprensa, a favor da diversidade e direito de expressar a opinião. Disseram que é melhor que as pessoas digam o que pensam para que a sociedade possa gerir melhor os contrastes. Ninguém é louco de meter a colher nessa sopa que envolve questões profundas e conflitantes. Enfim, quem sou eu primo para julgar uma coisa dessas, embora condene qualquer tipo de extremismo.

Um jornalista escreveu outro dia que as pessoas têm que se acostumar à ascensão da Classe C. Ele disse que as senhoras elegantes devem se acostumar à presença de pessoas simples, viajando pela primeira vez em aviões. Continuou dizendo que trata-se da diversidade de um país enorme e assim por diante. Com todo respeito ao jornalista, creio que ele não tem viajado pelo Brasil por via área. Se o fizesse veria que talvez sejam as pessoas mais simples que devam se acostumar à intromissão das elegantes, pelo menos em alguns voos. De fato, é alvissareiro o fato de que inúmeras pessoas que antes viajavam de ônibus agora ascenderam à condição de passageiros de aviões.

Dias atrás fui ao Recife e ao meu lado sentou-se um senhor que viajava pela primeira vez de avião. O destino dele era a cidade de Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero. Conversamos bastante. Ele mora, há vinte anos, em Poá e é pedreiro. Viajava para visitar a família em Juazeiro, cidade que, segundo me disse, equivale a Mogi das Cruzes em tamanho. Falou muito sobre Juazeiro encarecendo que eu visitasse o lugar. A certa altura perguntei a ele quantos dias levaria uma viagem de ônibus de São Paulo a Juazeiro. Ele me respondeu que seriam três dias, acrescentando que hoje a viagem de ônibus não compensa: comprou a passagem de avião com antecedência e pagou, ida e volta, cerca de 600 reais. Segundo ele a passagem de ônibus, só de ida, custa 370 reais.

Então me parece que essa discussão sobre preconceito contra nordestino é assunto para dar pano para manga aos noticiários. As pessoas de renda mais alta e as de renda mais baixa não parecem estar muito preocupadas com isso. Quem passa uns dias no nordeste não percebe pessoas se sentindo discriminadas. Se há referência a preconceito é nos meios de comunicação.

Pelo amor de Deus, não estou dizendo que não existe preconceito no país ou que a imprensa está criando uma situação ilusória. Os fatos envolvendo preconceito são concretos. O que me parece é que com a natural ascensão de classes menos favorecidas situações antes camufladas agora surgem às claras. Entretanto, são fatos cuja generalização está a exigir estudos mais acurados. Até agora não se trata de nada que gere dois polos antagônicos como sugerem aqueles mapas que dividem o país em duas regiões gerais, identificadas pelas cores vermelha e verde.

Quanto ao Tiririca, não acredito e nunca votaria nele porque não sou partidário de que pior que tá não fica. Muito pelo contrário.