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Virginia Woolf

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A revista Time acaba de divulgar a lista das 25 mulheres mais influentes do século XX. A lista é encabeçada por Jane Adams (1860-1935) que lutou pelas causas sociais de trabalhadores e foi a primeira americana a receber o Prêmio Nobel da Paz. Fazem parte do grupo a Madre Tereza de Calcutá (1910-1997), a cantora Madonna (1958-), Coco Chanel (1883-1971), Oprah Winfrey (1954-) e Hillary Clinton (1947-).

Entre as mais influentes também se encontra a escritora britânica Virginia Woolf (1882-1941). Seu livro mais conhecido é Orlando, publicado em 1928, considerado um marco do modernismo. Orlando é um jovem inglês, nascido ao tempo da Idade Moderna, que, durante viagem à Turquia, certa manhã acorda transformado em mulher. Como Orlando é imortal, pode-se acompanhar a sua trajetória por um período de 350 anos nos quais a ambiguidade do sexo é trabalhada pela autora. O leitor acompanha Orlando dos dezesseis aos trinta e dois anos que correspondem, em termos de biografia, a mais de três séculos de história literária. Segundo o crítico Harold Bloom o que mais importa em Orlando é a comédia e um intenso amor pelas grandes eras da literatura inglesa. Virginia adorava a arte e Orlando reflete as atividades de uma grande leitora que, já no prefácio do livro, confessa as várias influências sobre o seu trabalho.

Virginia Woolf forma, juntamente com James Joyce, Marcel Proust e Franz Kafka, o quarteto mágico do modernismo. O crítico Peter Gay explica como se deu a transição do realismo para o modernismo, abordando aspectos inerentes aos dois movimentos. Afirma o crítico que os autores de prosa convencional não chamavam atenção especial para as suas técnicas. O esperado nos romances tradicionais eram personagens enfrentando situações complexas, havendo surpresas e mudanças de fortuna; entretanto, a trama caminhava para uma solução final, um desfecho claro como se houvesse acordo tácito entre o escritor e os leitores. Exploravam-se mais as exterioridades, ao contrário das obras modernistas, voltadas para as realidades internas. Seguiu-se, com o modernismo, uma revolta contra as exterioridades. Peter Gay prossegue dizendo que os modernistas inverteram dramaticamente a técnica do romance, mudando a distribuição habitual do espaço, muitas vezes dedicando longas passagens a um único gesto. Abandonavam-se os cenários e o drama investindo-se numa viagem interior, celebrando-se a subjetividade.

A questão da subjetividade foi explicada por Virginia Woolf durante uma palestra na qual afirmou: “em dezembro de 1910, a personalidade humanam mudou”. Referia-se a escritora à mudança de mentalidade definida como modernismo. Para Woolf a primeira década do século XX ainda estivera envolta em princípios vitorianos antiquados.

Virgínia Woolf era filha de um historiador de ideias e editor importante. Desde cedo mostrou-se muito frágil e sensível, sendo frequentes suas mudanças de humor que, por vezes, chegavam a enlouquecê-la. Leitora incansável, Woolf escrevia desde cartas a ensaios e polêmicas feministas. Em seus livros a escritora abordava questões políticas, sociais e também o pensamento feminista, envolvendo a situação da mulher e suas limitações diante das imposições de um mundo masculino.

Em 1912 Virginia casou-se com Leonard Woolf com quem, cinco anos mais tarde, fundou a editora Hogart Press. Nessa editora foram revelados escritores como T. S. Eliot e Katherine Mansfield. Entre os livros de Virginia Woolf destacam-se, além de Orlando, Rumo ao farol e As ondas.

A extrema fragilidade de Virginia Woolf terá sido o fator preponderante em sua precoce morte. No dia 28 de março de 1941, logo após um colapso nervoso, a escritora vestiu um casaco, encheu-o de pedras e atirou-se nas águas de um rio, onde morreu. Pouco antes de seu suicídio deixara uma carta ao marido Leonard com os seguintes dizeres:

Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim, mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.

V.