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Mania de fotografia

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Não duvide, há sempre alguém com uma máquina fotográfica perto de você. Nem precisa ser uma máquina convencional de vez que um celular simples serve para fotografar e filmar.

Não é a primeira vez que falo sobre o assunto, mas continuo impressionado com o impulso das pessoas fotografarem tudo, cada momento, guardando em bytes uma vasta memória do que veem ao longo de suas vidas. É assim que milhares de fotos são acumuladas sob a ação dos controles automáticos de câmeras que se encarregam do equilíbrio das condições locais: abertura do diafragma, sensibilidade, profundidade de campo, velocidade do obturador, tudo automatizado para que não se perca tempo com ajustes. Acresça-se a isso a capacidade crescente de armazenamento dos dispositivos de memória que permitem guardar gigas e gigas de informação digital.

Brad Pitt brinca com o filho Zahara na grama do Central Park, em Nova York; Hugh Jackman brinca com seus filhos de caçar caranguejos nas pedras; Tom Cruise leva Suri para um passeio na Riviera Francesa. Como sei como disso tudo? Ora, atores famosos brincam com seus filhos e há sempre alguém no encalço deles, flagrando-os na intimidade.

Diariamente os sites de notícias da internet publicam milhares de fotos selecionadas por assunto, disponibilizadas a gosto dos usuários. Basta algo acontecer para, minutos depois, fotos aparecerem no vídeo dos computadores. Atentado no parlamento da Tchetchênia? Aí estão as fotos da polícia dentro do prédio destruído e onde morreram seis pessoas. Dois ursos andam numa rua do Japão? É só olhar para a foto de ursos passeando no centro da cidade de Shari, província japonesa de Hokkaido. Lá estão os animais em meio ao tráfego de carros, circulando livremente antes de serem atingidos por um atirador.

A desmistificação da fotografia é fato concreto e incontrolável. Sites como Orkut são úteis para disponibilizar fotos pessoais e de amigos. O mundo passa a se entender por meio visual, frequentemente em detrimento de palavras. Uma nova ordem de relacionamentos estabeleceu-se, dela derivando o imperativo de “fazer parte de”, “não estar fora de” e assim por diante. Derivam daí as comunidades que se multiplicam como se constata a cada dia.

Mas, o mais interessante é o fato de as pessoas gostarem tanto de serem vistas. Em alguns casos a situação chega ao limite do despudor tal o empenho em se expor, mostrar-se publicamente.

Numa época de despersonalização compulsória e pessoas imersas em multidões sem rosto a fotografia pode funcionar como passaporte de reconhecimento.  Mostrar-se publicamente numa foto adquire o significado de estar vivo, destacar-se da multidão, diferenciar-se, conquistar uma espécie de reserva de identidade.

Penso se, afinal, tudo isso não passa de modismo. Há poucos anos não existiam câmeras digitais e as fotos dependiam de filmes e revelação. Inexistiam, também, as comunidades da internet e a própria internet. Em assim sendo não é absurdo imaginar que, com o desenvolvimento da tecnologia, algo novo e ainda desconhecido, talvez outra forma de comunicação, substitua os meios atuais. Mas, isso só saberemos se vier a acontecer.

Quem viver verá.