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No caminho da onça

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Uma onça parda invadiu um galinheiro e matou 41 galinhas. Aconteceu em Duartina, interior de São Paulo. De manhã o proprietário do sítio dirigiu-se ao galinheiro para alimentar as galinhas. Deu com a onça e os animais mortos. Assustado, chamou a polícia ambiental que, usando tranquilizantes, capturou a onça. Agora o animal será devolvido ao ambiente selvagem.

Nos anos 50 do século passado a rede viária do país era ainda mais precária. Cidadezinhas do interior não possuíam estradas transitáveis. Asfalto nem pensar. Na Serrada Mantiqueira caminhões usavam correntes nos pneus para avançar em trajetos de puro barro. A forte lavoura da região enfrentava problemas para o escoamento de seus produtos. Não era incomum que caminhões carregados com hortaliças permanecessem dias parados sem poder descer pela serra, a ponto de se perderem totalmente as cargas. Sabemos que ainda hoje o problema persiste em várias regiões do país. Mas, naqueles tempos era regra geral a tremenda dificuldade de transportes.

Cabia-me, quando ginasiano, percorrer alguns quilômetros com a finalidade de embarcar no bonde da Estada de Ferro Campos do Jordão. O trajeto era cumprido a pé, na ida e na volta. Certa ocasião, chegando no bonde noite, segui pela estrada de terra, utilizando a luz de uma lanterna. Cumpre lembrar de que a estrada era circundada por densa mata na qual pontificavam árvores e muitos pinheiros. A certa altura o facho de luz da lanterna encontrou-se com dois olhos que brilhavam no escuro. Era uma jaguatirica. Essa onça, de porte médio, tem hábitos solitários e alimenta-se de outros animais que obtém através da caça. Em geral mantém relação de distância com o homem, a quem não tem por hábito atacar. Entretanto, dar com uma jaguatirica no meio da estrada, estranhamente parada e sem dar sinais de que sairia do lugar onde estava, era assustador. Na ocasião pareceu-me que o melhor seria manter-me firme, sem demonstrar medo. De modo que quedei paralisado, sem saber o que fazer, esperando.

Não sei dizer quanto tempo durou a inesperada situação. Talvez não mais que um minuto que a mim simulou a eternidade. Enfim, a jaguatirica se moveu, tornou ao mato. Respirei aliviado. Ainda fiquei por alguns instantes no mesmo lugar, indeciso sobre seguir adiante. E se a jaguatirica estivesse emboscada, esperando-me passar para dar o bote. Ora jaguatiricas não costumam atacar o homem. Fazendo muita força para tomar isso como verdade, enfim segui adiante.

Ficou-me a imagem do animal selvagem em meu caminho. Como acontece a toda gente vida afora enfrentei situações complexas, simulando onças às vezes bem maiores que aquela jaguatirica. Daí que sinto que foi importante não ter-me acovardado naquela noite, na estrada. A jaguatirica terá me ajudado a forjar pelo menos parte da resistência de que precisei em muitas situações ao longo desses anos.