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Dostoievsky

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Imagino que as gerações mais recentes não se aprimorem no hábito de leitura. O encantamento com meios eletrônicos seria uma das causas. A molecada é fissurada nos joguinhos eletrônicos. Alguns desses jogos transformaram-se em verdadeira febre, veja-se o caso do Fortnight.

Além do que fato é que no geral das residências inexistem livros. Vai longe o tempo em que, após o jantar, conversava-se sobre assuntos interessantes, incluindo-se livros e seus autores. As novelas da TV também contribuíram para deslocar o interesse para as tramas exibidas na telinha. O mundo mudou, não é mais aquele. Devorar páginas inteiras de livros tornou-se anacrônico. E, pelo que se sabe, os livros eletrônicos ainda não fazem parte do hábito das pessoas.

O que é uma pena. Ficam, assim, os jovens alijados da magia da boa literatura. Não conhecerão os grandes escritores russos, por exemplo. Gogol, Tchekhov, Tolstói, Dostoievsky… Perde-se muito com essa verdadeira alienação.

Entre nós de grande importância foram os volumes da “Antologia do Conto Russo” obra de fôlego, em nove volumes, organizada por Otto Maria Carpeaux. Serviu ela como introdução á literatura daquele país. A ela foram acrescentadas traduções de romances de vários autores. Desse modo, ainda jovens, tínhamos já uma razoável iniciação sobre a literatura russa graças ao excelente trabalho de Carpeaux.

Entre os grandes escritores russos difícil - ou impossível - dizer qual o preferido pelos leitores. De minha parte sempre tive Dostoievsky como leitura obrigatória. Impossível esquecer “Crime e Castigo” no qual Raskolnikov convive com seu crime e a pressão psicológica que o atormenta. E que dizer de “Recordação da Casa dos Mortos”. E quanto a “Os irmãos Karamazoff”?

Dostoievsky é um monstro da literatura. Daí que surge como grande ofensa à memória do escritor a reação em voga por ocasião da invasão da Ucrânia pela Rússia. Embora a condenação do mundo ocidental ao que Putin determina não se pode estender ao povo russo a ojeriza provocada pela guerra. Daí soarem incongruentes, por exemplo, pedidos ao prefeito de Florença para derrubar a estátua de Dostoievsky que existe na cidade. Seria manifestação de repúdio à invasão da Ucrânia determinada por Putin.

Infelizmente crescem manifestações contra russos e suas coisas, atingindo até a parte culinária - lê-se até sobre boicote ao estrogonofe. Entretanto, espera-se a volta do bom senso. A estátua de Dostoievsky deverá permanecer onde está em nome de algo que chamamos de civilização.