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A hora dos velhos

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O ministro das Finanças do Japão declara que os velhos devem se apressar a morrer porque o estado não dá conta de sustentá-los. Com o envelhecimento da população japonesa seria vergonha manter-se vivo à custa do dinheiro público. O ministro tem 72 anos e disse ter pedido à família que não prolongue a vida dele com remédios.

A insólita declaração do ministro causou estupor e protestos. Depois ele veio a público para dizer que sua fala refletia apenas a opinião pessoal e não a do governo. Mas o mal feito estava consolidado e nenhuma desculpa seria capaz de amenizar a infeliz declaração anterior.

A fala do ministro fez-me lembrar de um capítulo da série “A Família dos Dinossauros” cujos capítulos ainda hoje são repetidos em canais de televisão. Num deles chegara o “Dia do Arremesso” no qual dinossauros que atingiam certa idade eram arremessados num precipício. Assim a sociedade dos “dinos” resolvia o problema da velhice, eliminando sumariamente os velhos.  No capítulo o chefe a família, Dino da Silva Sauro, não conseguia esconder a alegria porque chegara o dia de arremessar a sogra dele.

Há muitos anos, meados da década de 80, assisti à palestra de um economista. Era ele professor universitário e ocasionalmente membro de equipes econômicas do governo. Vinha ele de um encontro de economistas realizado na Europa no qual se discutiu o envelhecimento progressivo da população, a queda da taxa de natalidade e a evolução para uma situação na qual os estados não teriam como cobrir a despesa gerada pela manutenção dos idosos.  Segundo o economista a situação era alarmante e se chegaria, poucas décadas à frente, a uma situação de insolvência.

Creio que o ministro japonês estivesse de fato preocupado com a evolução do quadro econômico e social em seu país embora a solução disparatada e absurda que acabou por sugerir. Entretanto, não há como olvidar que a questão está em aberto. Vivemos num país em que a desigualdade social é ostensiva, no qual a grande parte da população fica à deriva nas questões que envolvem o bem-estar. Saúde, segurança, transporte, educação e muitos outros setores ligados à vida em comum seguem em condições infelizmente deploráveis embora o esforço de muita gente para pelo menos amenizar o quadro com o qual diariamente nos deparamos. Dentro de tal contexto os cuidados e atenção aos idosos deixam muito a desejar exigindo-se que alguma coisa seja feita em relação a eles.

Tornar-se velho não é nada simples. Defrontar-se com a realidade de problemas de saúde e redução da capacidade de trabalho representa ficar à margem do setor produtivo e manutenção das condições habituais de vida. Ao idoso ocorre preocupar-se justamente com a sobrevivência no futuro imediato a qual, na maioria dos casos, torna-se incerta. Cabe aos governos assistir na velhice aqueles que deram a sua contribuição ao país. Não será convidando-os a apressarem suas mortes que se resolverá o problema.