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O aniversário do Tubarão

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Se você não gosta de sedutores, não leia. Pois que fique bem claro: o Tubarão é um sedutor. Bonitão, bem de vida, conta-se que enlouquece as mulheres que se apaixonam por ele. O cara é o rei dos galanteios, discreto, se exagerarmos até mesmo um profissional do ramo. Mas é preciso dizer: o Tubarão não é vulgar e nesse aspecto reside a sua força. Como aquele seu sósia das águas: agressivo, mas contido na abordagem a ponto de que não se perceba a sua agressividade. Ele não se move: desliza. Distribui sorrisos, encanta, determina como tudo será e o coro da mulherada reza com ele numa sequência interminável de améns. Só depois desse ritual é que ele se revela em sua essência e aí, meu caro, babau.

O Tubarão é um sujeito mais que querido. O aniversário desse corintiano nato e de raça não foi uma festa: foi um momento de reorganização das bases porque amores distintos e de épocas diferentes vieram rever o grande rei. Era de se ver o sedutor no meio delas: insinuante, gestos estudados, guelras em ebulição como deve ser com um bom tubarão.

E não é que ninguém brigou ou discutiu? A vida ensina que nas altas águas do grande mar das emoções cada peixe tem o seu lugar e hora de ser acolhido pelo longo abraço do Tubarão. Enfim, tudo é possível quando o Tubarão decide dar uma festa. Não existe ciúme, namoradas e ex-namoradas entendem-se às mil maravilhas porque ele, o senhor, assim determinou.

Houve um momento, um só momento, em que o Tubarão titubeou: estava ele entre a loura e a morena com quem atravessaria o restante da madrugada. Nessa hora ele despiu-se do manto de rei dos mares e bares e perguntou a uma amiga – a que me contou essa história – se uma ou outra pretendida teria percebido a sua indecisão.

Não foi possível saber o que aconteceu no final. Há quem diga que saiu com as duas, afinal ele é o Tubarão. Mas o que rolou foi que até os homens estavam estarrecidos com o poder e a dominação do rapaz. Houve homem que o elegeu – em público – como o seu ídolo.

E a madrugada correu, as águas rolaram e os oceanos se calaram sobre os feitos do Tubarão naquela noite. Segundo se diz o Tubarão atingiu o invejável patamar de ser aceito segundo as suas condições. Seu aniversário foi um desses grandes acontecimentos sobre os quais a megalópole de São Paulo não toma conhecimento, assim como olvida a existência de tantas confrarias. Isso digo porque o Tubarão é na verdade o guru de uma opção de vida, talvez apóstolo de uma variante de entendimento que rola por aí,nas madrugadas, sem previsão de dia seguinte.

E assim segue a vida do Tubarão, como aquele Grenouille, a personagem do romance “O Perfume” de Patrick Süskind. Grenouille que aprisiona os odores humanos e leva o povo a se entregar aos mais explícitos gestos de amor, sem pudor algum.

Feliz aniversário, bendito e maldito Tubarão que provoca inveja a tanta gente.

PS: esta história me foi contada com uma graça impossível de repetir.

Escrito por Ayrton Marcondes

20 julho, 2009 às 11:03 am

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