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O inesquecível ano de 1950

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Há fatos que desafiam a passagem do tempo. Não importa quantos anos tenham se passado porque sempre há um, bem determinado, do qual não se esquece. Naquele ano, naquele mês, naquele dia…cada um conta a história a seu modo. Quando morrem os que viveram à época do acontecimento maior a história passa a ser contatada pelos seus herdeiros. Assim sobrevivem as memórias, os medos, os soluços abafados e também os escancarados. Esse é bem o caso da derrota brasileira de 1950 diante do Uruguai, perdendo-se a Copa do Mundo em casa diante de estarrecidos olhos de milhares de brasileiros. O palco da tragédia foi o Maracanã para onde agora convergem as esperanças de nova conquista da Copa pelo país.

Impressiona observar que com a aproximação do início da Copa-14 crescem no noticiário reportagens sobre a tragédia de 50. A cada dia um aspecto daquele que já foi considerado o dia mais triste do Brasil é trazido de volta à cena. A ferida não fecha e não há previsão de que possa ser fechada. Mesmo que a final da Copa-14 venha a ser jogada no Maracanã entre as seleções do Brasil e do Uruguai, mesmo se o Brasil vencer esse traumático jogo por 10 X 0, ainda assim não se conseguirá sepultar definitivamente o jogo de 1950. O fato é que a final de 50 foi incorporada ao imaginário do brasileiro e permanece como sinal de alerta em relação a todas as nossas limitações. O Brasil é um país muito grande, nunca um grande pais e por sabermos disso coçamos as nossas feridas, temos até certo prazer em coçá-las. Não chegamos ao ponto que chegam nossos irmãos argentinos mais dados à celebração de coisas fúnebres que nós. A magia de Buenos Aires está ligada a esse som de tango que parece percorrer as ruas da cidade nas madrugadas desertas, disseminando alguma dor e ressentimentos. Não somos assim. Nossa país recebe a coroação do Sol que tudo doura, a estocada dos batalhões sempre prontos a aderir a qualquer festa que se diga digna desse nome. Talvez por isso sejamos os reis do carnaval, das mulheres seminuas e de corpos esculturais sambando nos alto dos carros alegóricos.

Num país assim onde a povo é naturalmente convidado à celebração os infortúnios não caem bem, sempre parecem fora de lugar. Por isso, pode-se dizer que a derrota de 1950 foi um acontecimento fora de lugar. Aconteceu num estádio errado, diante de uma plateia errada, espalhando-se pelas ondas de rádio pelo território de um país errado. Fato de tal magnitude e de tal forma inesperado sugere que talvez os deuses do Olimpo naquele dia tivessem se reunido e bebido muito, daí a decisão de justamente punir aquele povo alegre que não merecia ter sido tão maltratado.

O ano de 1950 é emblemático para os brasileiros e nada se pode fazer quanto a isso. Aí está a foto de Gigghia no momento em que ergue o braço direito e, ainda no ar, comemora o gol que acaba de fazer. Barbosa, o goleiro da seleção, estendido no chão, a bola no fundo das redes, cena que gravou um ponto de inflexão na história do país.

Por essas e outras não podemos apagar de nossas memórias o ano de 1950.