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O incêndio do Joelma

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Há exatamente 40 anos, no dia 1º de fevereiro de 1974, eu fazia plantão no Hospital Municipal em São Paulo. Era, na época, estudante do sexto ano de medicina e interno do hospital ao qual chegara através de concurso.

Naquela manhã de sexta-feira recebemos a notícia de que o Edifício Joelma estava em chamas, havendo a possibilidade de que pessoas fossem encaminhadas ao hospital para atendimento. Imediatamente prepararam-se as equipes, clínicas e cirúrgicas, além de especialistas em queimados. De um instante para outro ouviu-se o ininterrupto soar das sirenes de ambulâncias que iam e vinham sem parar.

Lembro-me bem de um homem vindo do Joelma o qual adentrou o PS já em situação crítica. Teria ele pouco mais de 30 anos, trajava u terno e respirava com extrema dificuldade. Em vão dois médicos lutaram para trazê-lo de volta. Tinha ele aspirado muita fumaça e de nada adiantou a máscara de oxigênio, nem mesmo a adrenalina com a qual se tentou ativar o coração. Impressionou-me ver aquele homem jovem e forte, de repente morto devido às circunstâncias inesperadas de um incêndio.

Não foram muitas as vítimas do incêndio trazidas naquele dia ao hospital, talvez pelas facilidades de acesso a outros hospitais mais próximos do Joelma. Soubemos depois que morreram no incêndio cerca de 190 pessoas, havendo 300 feridos. Um curto-circuito no sistema de ar condicionado de um dos andares dera início à grande tragédia.

Na entrada do PS postaram-se repórteres em busca de informações para os seus veículos de comunicação. A certa altura, quase noite, anunciou-se que em pouco visitaria o hospital o então ministro da Saúde. Eu estava na portaria quando o carro oficial estacionou. Vi, dentro do carro, um homem de aspecto cansado, muito abatido, certamente pela difícil jornada que percorrera naquele dia. Entretanto, quando a porta do carro se abriu e os repórteres se acercaram dela o ministro transformou-se: subitamente abriu um largo sorriso, pousando com aspecto confiante para os flashes que espocavam.

Ficou-me a face do ministro da qual nunca me esqueci. Naquela época pareceu-me estranha a transformação que se operara nela como em resposta imediata a um clique mágico. Mais tarde a vida me ensinaria os cliques necessários para atender a situações tão diversas e desgastantes.