O Discurso do Rei at Blog Ayrton Marcondes

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Domingo de Oscar

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Não assisti a todos os filmes que concorrem ao Oscar, mas aposto as minhas fichas no rei gago de “O Discurso do Rei”. Outro dia li uma crítica desfavorável a esse filme. Reclamava o crítico de um jornal do mau uso do contexto histórico em que se apoia “O Discurso do Rei”. A meu ver é justamente aí que entra a tal liberdade de criação, espécie de licença poética quando personagens reais são tomados em contextos mesclados de realidade e ficção. Deve ser óbvio que o rei George do filme não é exatamente igual ao Rei George que ocupou o trono da Inglaterra ao Tempo da Segunda Guerra Mundial.  Em todo caso o que resta é esperar pela premiação e ver no que tudo vai dar.

O grande assunto desse domingo é, como não poderia deixar de ser, a Líbia. Creio que todo mundo torce contra Gaddafi e pela liberdade de um povo que há cerca de quarenta anos aguenta ditador tão imprevisível e capaz de muitas loucuras. Entretanto, não deixa de causar algum asco essa revolta de governos estrangeiros que se juntam aos protestos do povo líbio, pedindo a cabeça de Gaddafi. Basta olhar nos jornais as muitas fotos de Gaddafi ao lado de vários líderes mundiais que mantinham com ele relações muito próximas. Ninguém estava a fim de brigar com um camarada sentado sobre uma enorme produção de petróleo, daí que o aturavam bem, aliás, muito bem. Tanto que Gaddafi e seus filhos têm capitais aplicados pelo mundo, sendo proprietários de parte da FIAT e do time da Juventus, da Itália.

Até agora ninguém havia proposto sanções econômicas contra a Líbia e tudo o mais que pudesse contribuir para a renúncia ou queda de Gaddafi do poder. Em outras palavras, os países acomodaram-se com o modo de operar do governo líbio e, salvo críticas pontuais de gente de imprensa, não se viu muita preocupação com o povo líbio. Entretanto, bastou que esse povo subjugado se erguesse e sofresse repressões sangrentas para que uma corrente democrática se estabelecesse em todo o mundo. Tudo bem que as coisas são assim mesmo, talvez não exista outro modo de ser quando o que conta são os grandes interesses comerciais envolvendo o preço do barril de petróleo. Mas, que é chocante lá isso é.

Em todo caso, que Gaddafi saia do governo e já. Que seja aposentado o tal “Livro Verde” que Gaddafi escreveu a guisa de orientação para o povo da Líbia. O que tem preocupado analistas políticos em todo o mundo é o que virá depois de Gaddafi. É preciso lembrar que a Líbia não tem Constituição e instituições como Parlamento. De tal modo Gaddafi cercou-se de seu jeito único e exclusivo de governar e comandar que, depois dele, espera-se um grande vazio com consequências imprevisíveis.

De todo modo, continuamos assistindo a uma revolução geral no mundo árabe que ninguém previu. É salutar que governos autoritários que não respeitam as liberdades individuais deixem de existir, mas há que se torcer por transições que não sejam dolorosas.

 Como dizia meu pai, o mundo gira, às vezes tanto que deixa as coisas de cabeça para baixo.