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O caso Waack

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Tempos trás dei carona para um rapaz. Seguíamos por uma avenida e, ao realizar a conversão para a direita, fomos fechados por uma motociclista. Por pouco não o atropelamos. No momento da quase colisão o rapaz que me acompanhava disse: “coisa de preto”.

Acontece que o meu caronista era um negro. Obviamente, não foi movido por nenhum racismo ao dizer o que disse. Apenas apelou para o manancial de dizeres comuns - e ofensivos - que fazem parte do vocabulário a que se está habituado. Negros, judeus e tantas outras etnias não escapam ao olhar deletério de uma população acostumada a ofender por simplesmente ofender. Mas, no fundo do poço, isso será sempre racismo?

Waack afirma que não. Disse o que disse, mas alega ter sido uma piada. Invoca sua longa e brilhante carreira jornalística para gritar alto que não é racista. Acusa as grandes corporações de covardia diante das redes sociais contra as quais não se propõem a pelo menos dialogar. Termina dizendo que sua obra é testemunho de que não é racista.

Não restam dúvidas de que Waack pagou alto tributo devido a posição que ocupa. Não fora ele jornalista de alto gabarito - sua ausência no Painel da Globo News é terrível - não teria o seu caso a repercussão que alcançou. Mas, era bem ele, vidraça das grandes e deu no que deu.

Não nos cabe afirmar com certeza sobre o foro íntimo do jornalista sobre racismo. Entretanto, não se desconhece que nos tempos atuais vicejam o conservadorismo e o politicamente correto. Tudo bem, mas insuportáveis os novos arautos da verdade que se levantam a todo instante em nome do politicamente correto. Que se veja celeuma estabelecida em torno do problema do assédio sexual. Sem jamais negar o grande drama vivido pelas mulheres constantemente assediadas – e estupradas – é preciso lembrar de que nem tudo é estupro.

Recentemente li que as redes sociais não nada criam, apenas servem para destruir. As “fake news” tornaram-se rotina e a manipulação da informação na internet coloca-nos em dúvida sobre a veracidade do que se divulga. Reina grande preocupação com o que está por vir no período que antecede as próximas e decisivas eleições. Uma delegacia para acompanhar a divulgação de notícias pela internet está em andamento.

Lastimo o acontecido a William Waack. Perde-se com a ausência de sua figura alguém em quem se pode confiar. Criterioso, perspicaz e informado, emprestava-nos alguma serenidade no julgamento dos fatos alarmantes que constituem o cotidiano desse enlouquecido Brasil.

Mas, que fazer?