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Naufrágios

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Sempre tive medo de águas. Fui criado assim, Perdi dois irmãos por afogamento daí nem mesmo ter me atrevido a fazer natação. Mais um filho afogado seria o fim para minha mãe.

Não gosto de lanchas, barcos, navios. Estive em alguns cruzeiros, num deles enfrentando mar muito agitado. Foi no trajeto entre Santa Catarina e Montevideo. Na ocasião nem mesmo foi possível servir-se o jantar. Os pratos não paravam sobre as mesas. O navio gigante parecia estremecer. Ondas violentas chegavam aos andares mais altos. Na manhã seguinte, em Montevideo, muita gente deixou o navio. Recusavam-se a seguir viagem pelo receio gerado na noite anterior.

Naveguei numa escuna entre Salvador, Itaparica e algumas ilhas próximas. Roteiro turístico belíssimo. Ao anoitecer voltávamos e o mar agitou-se. Tamanho o desconforto que os passageiros atemorizaram-se. Ondas não só balançavam o barco como éramos molhados pela água salgada. Num momento de grande tensão pessoas gritavam. Vi gente rezando. Naquele início de noite tive a impressão de que me uniria a meus irmãos pelo mesmo tipo de fim.

Na semana dois naufrágios aconteceram, um no Xingu, outro com uma embarcação que levava passageiros de Itaparica para Salvador. Em ambos muitos mortos e histórias terríveis narradas pelos sobreviventes. Um menino salvo das águas não resistiu e faleceu horas depois. O caso comoveu o país.

Nessas ocasiões procuram-se os responsáveis pelas tragédias. Mais uma vez surgem notícias sobre falta de fiscalização e destaca-se a extensão o litoral do país como empecilho para controle. A isso se somam irresponsabilidades dos proprietários de embarcações nem sempre preparadas para enfrentar os perigos do mar.

Mas, infelizmente, tudo passa. Fala-se sobre o assunto durante alguns dias, mas a vida continua. Os mortos são esquecidos, os responsáveis nem sempre são punidos. As vítimas serão lembradas daqui a algum tempo, quando da ocorrência de novos naufrágios.