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Narradores esportivos

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Assisti à entrevista do locutor Luciano do Valle transmitida pelo canal pago ESPN. De Luciano pode-se dizer que foi incorporado pelos torcedores ao imaginário do esporte. Tem ele em sua longa carreira o mérito de ter iniciado a transmissão de vários gêneros de esporte no país, contribuindo para que caíssem no gosto do público. O vôlei deve muito a Luciano cuja perspicácia foi decisiva para a divulgação de grandes nomes desse esporte, iniciando-se, assim, uma tradição de grandes seleções brasileiras que perdura até hoje.

Na entrevista Luciano referiu-se a grandes nomes do rádio e da televisão, fazendo-nos recordar narradores, comentaristas e repórteres que marcaram época no país. Pedro Luís, Mário de Moraes, Fiori Giglioti, Darcy Ribeiro, Juarez Soares e muitos outros foram citados. Quem ficava com os ouvidos grudados no rádio por ocasião das transmissões de jogos de futebol, certamente ainda hoje é capaz de recordar, mentalmente, o timbre da voz de cada um desses excelentes jornalistas que alimentaram as nossas paixões pelo esporte.

A entrevista de Luciano levou-me a recordar um tempo em que a televisão era ainda incipiente e o rádio pontificava como meio exclusivo de divulgação do esporte. Lembro-me bem dos comentários de meus familiares que volta e meia se referiam ao famoso jogo do São Paulo contra o Milan, realizado na Itália e transmitido pela Rádio Pan-Americana - atual Jovem Pan. Nesse jogo de 1951 o locutor Geraldo José de Almeida narrou o verdadeiro massacre sofrido pelo São Paulo, irremediavelmente derrotado pelo Milan com auxílio do árbitro que favorecia a equipe italiana. A terrível derrota do São Paulo que entristeceu e enfureceu seus torcedores na verdade não aconteceu: tratava-se de uma armação realizada em torno de um jogo que não aconteceu, piada inventada para comemorar o dia primeiro de abril que é o dia da mentira.

Cheguei a ouvir transmissões realizadas pelo sempre fantástico Ari Barroso que, além de enorme maestro e criador musical, deu-se ao desfrute de narrar futebol. Jamais me esquecerei do estilo irreverente de Ari que durante uma transmissão de jogo pela TV disse em relação a um jogador que cometera uma falta e seguira com a bola: “ele desossou um ali”. Tal a perfeição do comentário em relação à jogada que se vira na TV que um meu tio pôs-se a gargalhar, divertindo-se muito.

A Copa de 58 ouvi pelo rádio. Num dos jogos do Brasil estava eu febril de modo que pedi que trouxessem o rádio da sala para o quarto onde estava acamado. Os jogos de 58 são inesquecíveis dado que Pedro Luís transformava o dial do rádio num campo de futebol, orientando os ouvintes quanto ao lugar do campo onde os lances estavam ocorrendo.

De Luciano do Valle guardei a transmissão da Copa de 82 na qual o Brasil perdeu o fatídico jogo para a Itália. Os três gols de Paolo Rossi nunca saíram da cabeça dos brasileiros que vivenciaram aquela tragédia. Na entrevista Luciano revelou que o então técnico Telê Santana não quis segurar o empate que garantiria a classificação brasileira: queria vencer a Itália e não fez a necessária substituição de Cerezo por Batista. Era hora de segurar o jogo, Telê optou por atacar. Esse jogo dói até hoje porque a seleção de 82 talvez tenha sido uma das maiores coleções de craques que o Brasil já revelou.

O futebol - assim como o esporte em geral - é parte integrante do cotidiano e nos permite por alguns momentos deixar de lado agruras do dia-a-dia.  Talvez por isso tenhamos tanta estima pela gente do rádio e da TV ligada ao esporte, a ponto de os considerarmos como pessoas muito próximas cujas opiniões ouvimos com muita atenção. No mundo esportivo Luciano do Valle tem sido um ícone e exemplo para as novas gerações de locutores e comentaristas pela seriedade de seu trabalho e compromisso com seus ouvintes.