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O nosso mundo está acabando

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Ouvi a frase acima de um homem na sala de espera do dentista. Acabara ele de ler sobre a morte do escritor Ariano Suassuna e concluíra sobre o fim do mundo.   Concordei com ele para não entrar em discussão. Mas, depois me perguntei sobre o significado do “nosso” e a que “mundo” o homem se referia.

Evidentemente a morte de um renomado escritor nada tem a ver com a possibilidade de fim do mundo. Mas, o problema está no “nosso mundo”. O “nosso mundo” é aquele ao qual estamos ligados pela percepção dos acontecimentos. Nesse “nosso mundo” algumas pessoas e tornam icônicas, referências às quais nos apegamos. De fato, Ariano Suassuna era para nós uma referência importante. Um grande cronópio como diria o escritor argentino Julio Cortázar. No momento em que uma referência da importância de Suassuna morre não há como não dizer que o “nosso mundo” está acabando. Entenda-se esse “nosso mundo” como o “meu mundo”, a minha circunstância, conjunto de significados que compõem o meu imaginário.

O fato é que as pessoas a quem nos ligamos de diferentes modos simplesmente desaparecem, deixando atrás de si um vazio que hoje em dia não se recompõe. Não há substituição ativa de peças valiosas no interessante jogo da vida. Escasseiam ainda mais as já tão raras personalidades que emprestam fôlego ao dia-a-dia do mundo. Basta dizer que houve tempo nesse mesmo Brasil em que eram vivos e atuantes Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Rubem Braga, isso para citar apenas três nomes da literatura que bailam na memória. Eles e muitos outros eram ícones de uma época. Podíamos abril o jornal numa manhã de domingo e ler um poema de Drummond escrito de véspera.

Tenho que concordar com o que disse o homem na antessala do dentista. O “nosso/meu mundo” está acabando. O que me leva a pensar sobre a ausência de ícones em nosso dia-a-dia. Afinal, quem é hoje referência no Brasil? Quem poderíamos citar, por exemplo, como grande estadista no campo da política? Na arquitetura depois da morte de Niemayer? Na poesia?

A recente Copa do Mundo serviu para que constatássemos não existirem mais ícones em nosso futebol. Hoje, de norte a sul do país concorda-se que não temos mais craques. A todo momento cronistas esportivos referem-se à safra medíocre de jogadores atualmente jogando no país ou em clubes fora dele. Os mais otimistas preferem falar numa entressafra que logo será substituída por nova safra de ídolos iguais aos nossos grandes jogadores do passado. Será?

Um mundo sem referências torna-se pobre e convida à mediocridade. A crise de boas referências no ambiente público torna o cotidiano carente de exemplos. Ao homem comum deixa de existir o modelo em que se mirar. Talvez por isso os dias atuais sejam tão pálidos, com gente andando por aí sem saber bem que caminho seguir.