Mutt e Jeff at Blog Ayrton Marcondes

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Leituras digitais

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Quando eu era menino o seu Brás me dava tirinhas do Mutt e Jeff que ele destacava do jornal “Correio da Manhã”. Habituado à leitura das tiras eu passava diante do centro telefônico onde o seu Brás cuidava das ligações interurbanas pedidas a ele pelas pessoas. Os mais novos não podem imaginar como era complicado conseguir uma ligação telefônica de uma cidade para outra. Você pedia a ligação para o(a) telefonista e ficava perto do telefone até que a linha ficasse livre e o(a) telefonista o chamasse, avisando que a ligação fora completada. O tempo entre pedir uma ligação e completá-la variava, em certos dias podia-se esperar até por algumas horas. Hoje o celular e a internet permitem comunicação instantânea. O fato é que continuo achando incrível falar com pessoas em qualquer parte do mundo, em tempo real, através do Skype. Estranhamento de gente antiga, mas que fazer?

O seu Brás morreu há muito tempo e o “Correio da Manhã”, grande jornal do Rio fundado pelo Edmundo Bittencourt também já não existe. Ficou-me o hábito de ler textos impressos em papel, sentir o peso dos livros nas mãos para fruir melhor a leitura.

De repente, assim como aconteceu ao telefone, também os textos passaram a ser lidos digitalmente. Jornais publicam seus textos na internet e você pode se tornar um assinante digital. É possível entrar no site do NYT e saber na hora o que se passa nos EUA. E não só os jornais: os tais e-books são aparelhinhos que servem à leitura de livros digitais de modo que se troca o volume de papel por arquivos de computador disponíveis a qualquer hora e em qualquer lugar, a vontade do leitor.

Tenho resistido à mudança do papel para o digital. Entretanto, há cerca de um mês, tornei-me assinante do “Estadão Digital”. Você recebe uma senha e pode acessar não só o jornal do dia como todo o arquivo digital do jornal. Aos sábados e domingos além do digital, você recebe em sua casa os mesmos jornais, mas impressos em papel.

Eis que vou me descobrindo leitor assíduo do jornal digital, preferindo-o ao impresso. Você pode achar isso uma coisa muito natural, mas para mim não é não. De certo modo me sinto traindo a confiança daquele monte de livros que esperam pela minha atenção nas estantes da minha casa. Eles estiveram comigo a vida inteira e agora me vejo obrigado a confessar que, talvez, não seja má ideia partir para um e-book. E não é que tempos atrás reli o “Retrato do Brasil”, do Paulo Prado, na telinha de um Ipad?

Edmundo Bittencourt fundou o “Correio da Manhã” em 1901. As críticas de Bittencourt ao senador Pinheiro Machado valeram a ele um duelo com o senador. O “Correio” tornou-se adversário e crítico do governo militar no Brasil e acabou sendo fechado na final da década de 1960. Hoje em dia pode-se ter acesso ao jornal através do site do Arquivo do Estado de São Paulo.

O seu Brás lia as edições do “Correio” um ou dois dias depois de sua publicação. O atraso devia-se á dificuldade do jornal chegar à casa dele, enviado que era pelo correio do Rio ao interior de São Paulo.